terça-feira, 4 de novembro de 2025

Yara e os Guardiões da Floresta

             Isabella  
 

Yara sempre foi fascinada por fotografia. Aos 13 anos, carregava sua câmera para todos os lugares, mesmo quando parecia que não havia nada digno de foto. Naquele verão, porém, sua vida mudaria. Ela e a mãe, Marize, uma bióloga dedicada à preservação da fauna brasileira, viajaram para a Amazônia. O destino era um centro de conservação de animais silvestres, em parceria com uma aldeia Tikuna.

A primeira impressão de Yara foi esmagadora. A imensidão da floresta parecia um oceano verde sem fim, e o calor úmido fazia o ar pesar. Assim que chegaram ao centro, Yara conheceu outros jovens que também passariam férias ali: Lucas, um garoto engraçado e cheio de medo de insetos, mas apaixonado por tecnologia; Duda, corajosa e impulsiva, que adorava animais e não ligava de se sujar; e Ravi, quieto, de olhar profundo, que parecia entender a selva de um jeito diferente. ´

Na mesma tarde, Tupã, um jovem indígena da aldeia vizinha, apareceu para guiá-los e apresentar a floresta. Ele não falava muito, mas sua presença impunha respeito — como se fosse parte da mata.

Numa noite especial, Tupã levou os amigos até uma clareira onde vivia Nayra, uma onça-pintada rara, protegida pelo centro e considerada sagrada pelos Tikuna. Seus olhos dourados refletiam o fogo da fogueira, e Yara, encantada, tirou dezenas de fotos. “Ela não é apenas um animal”, explicou Tupã. “É guardiã da floresta. Sua força mantém o equilíbrio.” Yara não entendeu totalmente, mas sentiu o peso daquelas palavras.

Na madrugada seguinte, um alvoroço despertou a todos. Nayra havia desaparecido. A jaula estava arrombada, pegadas se espalhavam pelo chão e um rastro de gasolina denunciava: caçadores. Marize e os outros adultos do centro tentaram organizar uma busca, mas chuvas fortes isolaram a região, e a comunicação por rádio falhou. Sem conseguir esperar, Yara reuniu os amigos. “Não podemos deixar que levem Nayra. Se ficarmos parados, vai ser tarde demais.” Tupã concordou, e os cinco decidiram se aventurar sozinhos.

A floresta parecia testar cada passo. Cruzaram igarapés, enfrentaram lamaçais e se perderam em trilhas que mudavam de lugar. Lucas usou seu drone para sobrevoar a mata, mas um gavião derrubou o aparelho. Duda caiu em um atoleiro e quase foi sugada, sendo salva por Ravi, que surpreendeu a todos ao acalmar a garota com uma canção em tupi que ele dizia ter sonhado. Yara registrava tudo com sua câmera, percebendo que cada clique era uma memória preciosa daquela jornada.

As pistas os levaram até símbolos gravados em pedras próximas a uma cachoeira. Tupã explicou que eram marcas deixadas por caçadores ilegais para se guiar. O grupo acendeu tochas e seguiu pelo caminho até encontrar um acampamento escondido: gaiolas cheias de aves raras, macacos e, ao fundo, uma enorme jaula coberta. O coração de Yara disparou ao ver os olhos dourados por entre as grades — era Nayra.

Mas o vilão por trás de tudo surgiu: Dr. Vítor Vargas, um empresário estrangeiro que fingia ser ecologista, mas comandava o tráfico de animais silvestres. Ele ria enquanto negociava pelo rádio a venda da onça. “Este animal vale milhões. É perfeito para colecionadores de luxo.” Os jovens se esconderam, apavorados. “Precisamos de um plano”, cochichou Yara. “Se formos de frente, estamos perdidos.”

Foi então que cada um mostrou sua força. Lucas improvisou armadilhas com cordas e restos do acampamento. Duda, destemida, se esgueirou até as gaiolas para soltar os animais menores. Ravi distraiu os guardas imitando sons da floresta, enquanto Tupã se movia silencioso como um caçador ancestral. Yara, com o coração acelerado, filmava tudo, pronta para expor Vargas.

No momento certo, Duda abriu a jaula de Nayra. A onça saltou com um rugido que ecoou pela mata, assustando os caçadores. Os animais soltos criaram um caos no acampamento: araras voando, macacos roubando lanternas, tamanduás correndo entre os homens. Vargas tentou escapar, mas Tupã o derrubou com um golpe certeiro de cajado. Foi Nayra, porém, quem impediu a fuga definitiva: com um salto poderoso, ela bloqueou o caminho do vilão, mostrando que a floresta se defendia sozinha.

Quando os adultos finalmente chegaram, guiados pelo barulho e pelas filmagens de Yara, encontraram os caçadores amarrados e todos os animais libertados. Marize abraçou a filha com lágrimas nos olhos, orgulhosa e assustada ao mesmo tempo. Nayra voltou para sua clareira, observando o grupo com um olhar quase humano, como se reconhecesse a coragem daqueles jovens.

Na despedida, os amigos se sentaram à beira do rio. O sol se punha atrás das árvores, pintando o céu de laranja.

— Nunca pensei que fosse capaz disso tudo — disse Lucas, rindo.

— Nem eu — completou Duda, segurando a mão de Ravi.

Tupã olhou para Yara. — Agora a floresta confia em você.

Yara sorriu, levantando a câmera para registrar aquele momento. “A aventura pode acabar aqui, mas essa memória vai viver para sempre.”

E assim, cinco adolescentes tão diferentes se tornaram Guardiões da Floresta, unidos por um segredo, uma amizade e uma promessa: nunca deixar de lutar pelo coração vivo da Amazônia.

 

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