Nordeste do Nordeste
Oziel Miranda - mirandaozieldionisio@gmail.com
Em 1958, surge o livro Oiteiro
de autoria de Magdalena Antunes, onde ela traz a memória a sua vida de menina,
considerada a primeira memorialista do Rio Grande do Norte.
Das suas lembranças gostaria
de destacar a viajem de Ceará Mirim para Natal com destino para Recife, onde
iria estudar no Colégio São José.
Magdalena ao falar sobre a
viajem diz que em uma linda madrugada de maio, as duas horas da manhã, seu Zé
Vedóia, um dos empregados bate à porta, dizendo, "Seu Coroné as barras já
vão quebrando".
Com esse aviso todos se
levantam, "era um abrir e fechar de malas", Virgínia coando o café e
os cavalos já se encontravam selados no pátio.
A caminho de Natal, a liteira
era o transporte que conduzia sua mãe, sua irmã e a própria memorialista.
Ao amanhecer, seu pai
apresenta a Lagoa de Extremoz. A autora do Oiteiro poeticamente nos diz: "Já
estávamos pertinho daquele enorme espelho de prata derretida, e em poucos
minutos beirávamos a lagoa e as patas dos cavalos faziam chá, chá, na areia
embebida d'água e as pedrinhas estalavam pulando dos lugares".
No caminho, uma pausa na
"Passagem da Vila", a liteira pára no alpendre da casa de sinhá
Joaninha, Magdalena lembra que havia "uma garrafa de aguardente pendurada
à porta principal”, na cozinha raspava-se coco, matavam-se galinhas, o milho
batido no pilão para fazer o angu.
Ao meio dia foi servido o
almoço, a memória da autora é minuciosa em detalhes: "Foi nos servido o
almoço numa larga e curta mesa, com uma toalha de algodão muito alva e rodeada
de franjinhas, desfiada na mesma fazenda, garrafas servindo de floreiras com
ramos de manjericão e angélicas, garfos e facas espelhados como prata
polida".
Pelas duas horas da tarde
continuaram a viajem. Magdalena ao chegar a Aldeia Velha, avista no alto uma
igrejinha, segundo ela, "era uma ermidazinha sem nome, muito humilde
aparentemente". Pediu a mãe para ir ao local, pedir a Nossa Senhora três
graças. Sua tia disse que quem entrava numa igreja pela primeira vez o
pedido era alcançado. Questionada qual era a graça, se nega a responder.
Seu pai ao se aproximar da
liteira, começa a prosear, diz que na Aldeia Velha, morou um homem chamado
Torres, que curava as pessoas de engasgo. O curador perguntava para que lado
estava a pessoa engasgada e fazia uma oração e o engasgo acabava.
As dezessete horas chegam a
Coroa, ficam à espera dos botes para atravessar o Rio Potengi para Natal.


Nenhum comentário:
Postar um comentário