quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Fragmentos de uma Viajem

 Nordeste do Nordeste







Oziel Miranda - mirandaozieldionisio@gmail.com



Em 1958, surge o livro Oiteiro de autoria de Magdalena Antunes, onde ela traz a memória a sua vida de menina, considerada a primeira memorialista do Rio Grande do Norte.

Das suas lembranças gostaria de destacar a viajem de Ceará Mirim para Natal com destino para Recife, onde iria estudar no Colégio São José.

Magdalena ao falar sobre a viajem diz que em uma linda madrugada de maio, as duas horas da manhã, seu Zé Vedóia, um dos empregados bate à porta, dizendo, "Seu Coroné as barras já vão quebrando".

Com esse aviso todos se levantam, "era um abrir e fechar de malas", Virgínia coando o café e os cavalos já se encontravam selados no pátio.

A caminho de Natal, a liteira era o transporte que conduzia sua mãe, sua irmã e a própria memorialista.

Ao amanhecer, seu pai apresenta a Lagoa de Extremoz. A autora do Oiteiro poeticamente nos diz: "Já estávamos pertinho daquele enorme espelho de prata derretida, e em poucos minutos beirávamos a lagoa e as patas dos cavalos faziam chá, chá, na areia embebida d'água e as pedrinhas estalavam pulando dos lugares".

No caminho, uma pausa na "Passagem da Vila", a liteira pára no alpendre da casa de sinhá Joaninha, Magdalena lembra que havia "uma garrafa de aguardente pendurada à porta principal”, na cozinha raspava-se coco, matavam-se galinhas, o milho batido no pilão para fazer o angu.

Ao meio dia foi servido o almoço, a memória da autora é minuciosa em detalhes: "Foi nos servido o almoço numa larga e curta mesa, com uma toalha de algodão muito alva e rodeada de franjinhas, desfiada na mesma fazenda, garrafas servindo de floreiras com ramos de manjericão e angélicas, garfos e facas espelhados como prata polida".

Pelas duas horas da tarde continuaram a viajem. Magdalena ao chegar a Aldeia Velha, avista no alto uma igrejinha, segundo ela, "era uma ermidazinha sem nome, muito humilde aparentemente". Pediu a mãe para ir ao local, pedir a Nossa Senhora três graças.  Sua tia disse que quem entrava numa igreja pela primeira vez o pedido era alcançado. Questionada qual era a graça, se nega a responder.

Seu pai ao se aproximar da liteira, começa a prosear, diz que na Aldeia Velha, morou um homem chamado Torres, que curava as pessoas de engasgo. O curador perguntava para que lado estava a pessoa engasgada e fazia uma oração e o engasgo acabava.

As dezessete horas chegam a Coroa, ficam à espera dos botes para atravessar o Rio Potengi para Natal.

 


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