No RN há historicamente uma casta que vive do ciclo vicioso de
complicar as coisas para depois facilitar o que não deveria ser difícil.
Não é coisa de um governo ou de outro, ou de um grupo político ou de
outro. Há nela participantes de todos os matizes políticos e de todas a
especialidades disponíveis. Para este tipo de parasita, o lucro
anunciado (ou mesmo apenas planejado) por empreendedores é como sangue
no oceano para os tubarões.
O empreendedor que anuncia que vai
investir, no dia seguinte recebe um séquito de visitantes querendo
assessorar, recomendar ou simplesmente sugar a título de oferecer
"apoio", "proteção política" e "incentivos". Alguns sequer deixam que o
empreendimento chegue ao estágio de lucrar: antes mesmo de se instalar, os investidores já são drenados por estes vampiros até a inanição, fuga ou morte precoce. E
nem adianta ameaçá-los com a hipótese do o empreendimento não se
viabilizar, pois eles não se importam com isso. Aliás, nem sabem o que é
viabilidade econômica. Acham que dinheiro dá em árvore, ou em mala.
Claro que seria injusto generalizar, pois no RN também há líderes e afiliados políticos respeitosos e cooperativos para com a atividade empresarial e
que, de fato, honram seus mandatos ou cargos - seja apoiando no que
podem (com ações institucionais e conquistas efetivamente
estruturantes), seja simplesmente cuidando de outros segmentos afeitos à
atividade governamental (sociais, por exemplo) e não atrapalhando a
atividade econômica por simples exercício de autoridade ou ganância.
Deixo ao critério de cada leitor, lembrar-se dos nomes que julguem
encaixar-se nestas categorias.
Em geral, o fato é que passa da hora de começarmos a lutar
para acabar com esta infeliz concepção de que ser bem sucedido
empresarialmente no RN significa imediatamente virar alvo preferencial
da parasitagem política e dos achaques diretos e indiretos, travestidos de apoios e incentivos artificiais.
É claro que não se trata de uma característica ou comportamento exclusivamente norte-riograndense. Há isso em todo lugar do país. A diferença é que no RN isso não evolui,
não se ameniza, não se dirime; em suma, não muda. Só se consolida e se
agrava. Parece que cada vez mais pessoas vêem mais futuro em juntar-se a
grupos políticos na esperança de um cargo ou vantagem oficial do que
para participar do aprimoramento estrutural ou político do lugar em que
vivem. E os pseudo-líderes em que se inspiram e a quem querem dever
obediência sabem disso; por isso, até cultivam e alimentam esta cadeia
de expectativas.
No dia em que até essa escumalha
de chefes e chefiados políticos descobrir que ganhará mais deixando os
empreendedores prosperarem, o Rio Grande do Norte caminhará. Assim
foi no Ceará, em Pernambuco e na Bahia. Lá também há famílias dominantes
(para o bem e para o mal), também há grupos de barnabés-satélites, de
sanguessugas dos empreendimentos alheios, de dificultadores artificiais e
seus correspondentes salvadores-da-pátria remunerados. Mas é tudo bem
menos traumático e mais cooperativo. Ao menos se permite que um ciclo
econômico se consolide, prospere. Ganha-se junto, fornecendo, prestando
serviços, assessorando - mas, num mesmo sentido, todos construindo. Aqui não: os ciclos econômicos mal duram o tempo de um mandato repassado
ao sucessor. Investir no RN fica parecendo um jogo de gato e rato, uma
armadilha com lindo cenário que logo se torna um penoso calvário. Assim
foi com o algodão, a barrilha, a mineração, os campos de golf e
resorts, o biodiesel, o camarão, o petróleo, o gás e talvez agora com a
energia eólica.
Seguirá sendo assim enquanto o empreendedorismo local e os investidores
imigrantes continuarem incautos e inertes quanto a isso, por medo ou
opressão. Há que se inverter a ordem de prioridades: o capital, o
investimento, o empreendimento vêm primeiro. Depois é que vêm os
dividendos políticos, os empregos diretos e indiretos, os impostos e
taxas, bem como as glórias e benefícios para quem apóia ou participa do
sucesso empresarial de um ciclo econômico.
E antes que venham com a ladainha comodista e acusatória do "torce
contra", permitam-me brandir desde já o meu honroso título de cidadão
norte-riograndense, motivo de grande orgulho para mim. Que venha algum
chacal cacifar números maiores do que os que eu ajudei a viabilizar em
investimentos no setor de energia para o RN: R$10 bilhões de reais em
investimento assegurado e garantido. Se deixarem. Tenho cacife para
falar.