As recentes declarações do Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, de que “a polícia prende mal e o judiciário é obrigado a soltar” são mais um capítulo do ciclo de desvalorização e injustiça contra os profissionais que arriscam a vida diariamente para garantir a segurança da sociedade.
Ao afirmar que as prisões
realizadas pela polícia são malfeitas e que o judiciário apenas cumpre seu
papel ao libertar criminosos, o ministro ignora uma realidade conhecida por
qualquer cidadão que acompanha minimamente o sistema de Justiça Criminal Brasileiro:
a impunidade não é culpa da polícia, mas, sim, da legislação
excessivamente benevolente e da aplicação de um garantismo jurídico que
prioriza a liberdade do criminoso em detrimento da proteção da sociedade.
Os números deixam claro que os
policiais enfrentam uma verdadeira e violenta guerra em nosso país. Segundo
os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), lamentamos
mais de 46.000 mortes violentas intencionais. Embora o
documento traga uma ênfase para a letalidade policial, com cerca de 6.000
mortes decorrentes de intervenção policial, também apresenta os dados de
vitimização com aproximadamente 120 suicídios e mais de 125 homicídios somente
em 2023, ou seja, o problema da segurança pública no País vai muito além do
trabalho de prisões efetuadas pelos policiais e esbarra na ausência de uma
política estruturada, eficaz e compatível com a situação de beligerância que
assolou a nação.
Em recente relatório do Departamento
Penitenciário Nacional (DEPEN) afirma que o índice de reincidência chega
a 42,5% entre os presos no país, que segundo o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública no Anuário (2024), são maios de 850 mil encarcerados no país,
sendo que mais de 72.000 estão nas ruas em liberdade assistida. Todos esses
dados evidenciam que o problema não está na ação policial, mas na ausência
de uma política eficaz do Estado no combate à criminalidade. Como esperar
que a segurança melhore se indivíduos perigosos são presos e colocados em
liberdade pouco tempo depois, prontos para cometer novos crimes?
Além disso, o Brasil
é um dos países que mais registra mortes de policiais, tanto em serviço quanto
fora dele, mais de 200 policiais em média são mortos por ano e muitas
vezes suas famílias ficam abandonadas. Muitos desses profissionais
vivem sob ameaça constante, enfrentam baixos salários e condições precárias
de trabalho, mas continuam atuando com bravura, apesar da falta de
reconhecimento por parte das autoridades.
A verdade é que a polícia não
prende mal. A polícia trabalha com os recursos que tem, dentro dos limites
impostos pelas leis e sob forte pressão social. O problema real está na
legislação e na forma como o sistema de Justiça lida com o crime. A Polícia
Militar e a Polícia Civil fazem sua parte, o que falta é uma estrutura jurídica
que garanta que os criminosos permaneçam presos e que a impunidade não continue
sendo a regra no Brasil.
Culpabilizar os policiais é um
discurso fácil e conveniente para quem não enfrenta a criminalidade de frente. É
mais fácil atacar aqueles que estão na linha de frente do que admitir que o
sistema precisa de mudanças profundas. Mas a sociedade precisa entender que
enfraquecer a polícia significa fortalecer o crime.
Ao invés de deslegitimar o
trabalho policial, o que o país precisa é de um sistema de Justiça Criminal
mais eficiente, leis mais rígidas contra o crime e maior reconhecimento para
aqueles que, diariamente, colocam suas vidas em risco para proteger a população.
Além disso, as declarações do
ministro da justiça levantam uma cortina de fumaça para esconder uma cruel,
dura e catastrófica realidade de um conflito armado que se alastra no país
entre as forças de segurança e o crime organizado, descosturando
um debate que deveria centralizar para declaração deste conflito armado e
utilização de legislação específica neste cenário atípico de uma verdadeira
guerra.
As forças de segurança não
podem continuar sendo os bodes expiatórios de um sistema falido. Está na hora
de olharmos para o problema real da Segurança Pública no Brasil e cobrarmos
responsabilidade de quem realmente tem o poder de mudar essa realidade, reconhecer
a guerra interna no país, proporcionar condições adequadas de trabalho,
uma legislação que proteja e legitime as ações das forças de segurança,
garantindo proteção social, salários dignos, assistência à saúde e proteção às
suas famílias.
* Dr. Jeoás Santos é advogado pós-graduado
em Direito Militar, com especialização em Urbanismo Social e Segurança Pública.
Diretor de Relações Institucionais da Comissão Nacional de Direito Militar da
Associação Brasileira de Advogados (CDM-ABA). Secretário Geral da Associação
Brasileira de Advogados na Bahia (ABA/BA). Diretor de Relações Institucionais
da Federação Nacional de Entidades Representativas de Praças Policiais e
Bombeiros Militares (ANASPRA) e Diretor Jurídico da Associação de Policiais e
Bombeiros Militares do Estado da Bahia (ASPRA/BA).

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