domingo, 2 de março de 2025

No Ritmo das Bandas Marciais

Você irá conhecer as diversas Bandas, como espaços de inclusão social e aprendizagem da juventude, tanto musical quanto cidadã, seus regentes, e desafios.



Confira a entrevista com o Maestro da Banda Marcial Felipe Ferreira de Urucará/Arez/RN Kaio Richardson Ribeiro Costa.

Kaio Richardson Ribeiro Costa, 19 anos, nasceu em Natal/RN, solteiro. Além de regente da Banda Marcial Felipe Ferreira de Urucará/Arez/RN, trabalha com seus pais e estuda Medicina Veterinária na UNP (Universidade Potiguar). “Sou apaixonado por música, e, além da banda, estudo um pouco de violino, clarinete e teclado, instrumentos que gosto muito”, destacou o maestro ao revelar que seu hobby preferido é a vaquejada. E disse: “Estou começando nesta área, caminhando aos poucos, mas já amo demais essa prática”. 

JORNAL CLARIM NATAL/RN – Há quanto tempo você é regente da Banda Marcial Felipe Ferreira de Arez/RN?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Eu iniciei como Maestro da Banda Marcial Felipe Ferreira em 2023, então já são dois anos de dedicação e aprendizado à frente da banda.

JCN - Como chegou a ser maestro/regente?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Minha trajetória como regente começou com uma paixão antiga por Bandas Marciais. Durante o ensino médio, estudei na Escola Antônio de Souza, em Parnamirim, onde tive a oportunidade de tocar na Banda Marcial Antônio de Souza sob a maestria de Alcilene Costa.

Foi meu primeiro contato com esse mundo que eu já admirava há muito tempo, e tocar ali foi a realização de um grande desejo.

A experiência foi tão encantadora que só reforçou meu amor pela música e pelas bandas marciais. Depois que terminei o Ensino Médio, não tive como continuar na Banda, mas descobri que aqui, na Escola Felipe Ferreira, haviam chegado instrumentos para formar uma Banda Marcial.

No entanto, o projeto estava parado, pois não havia ninguém para liderá-lo. Foi então que decidi conversar com a diretora Sueli, que acolheu minha ideia de tirar os instrumentos das caixas e transformar o sonho em realidade.

Começamos com poucos recursos, cerca de 15 instrumentos, mas com muito esforço e dedicação, conseguimos fazer o projeto crescer. Hoje, a Banda Marcial Felipe Ferreira é uma realidade que representa nossa comunidade, e tenho orgulho de ser seu regente desde 2023, liderando e inspirando outros jovens a viverem essa experiência incrível.

JCN - Qual a importância de estar à frente de uma Banda Marcial como maestro?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Estar à frente de uma Banda Marcial como maestro é uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma realização pessoal. É gratificante poder guiar meus alunos a trabalhar em equipe e contribuir para o crescimento deles, tanto musical quanto pessoal. Além disso, é incrível ver como a banda unir a comunidade e levar cultura e alegria para as pessoas.

 JCN - A Banda é composta por quantos membros?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Banda Marcial Felipe Ferreira de Arez/RN é composta por 80 componentes.

JCN - Qual é a sua grande vitória como regente?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Minha maior vitória como regente é ver um projeto como esse se desenvolvendo na minha comunidade, um lugar onde ninguém nunca imaginou que algo assim poderia acontecer. É muito mais do que uma banda; é um espaço de acolhimento para jovens e crianças, onde um sonho que um dia foi meu e também de alguns pais desses alunos se tornou realidade. A maior recompensa é perceber a alegria de cada um, seja nos ensaios, nos desfiles, nas brincadeiras ou até nos momentos mais emocionantes. É sobre o amor, os laços criados e a transformação que esse projeto trouxe para a vida de todos nós. Isso, para mim, é a maior vitória.

 

JCN - As Bandas Marciais e Bandas de Música são espaços de inclusão social? Por quê?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Sim, as Bandas Marciais e as Bandas de Música são espaços de inclusão social, pois oferecem acesso à cultura e à educação para jovens de diferentes realidades. Elas promovem o desenvolvimento pessoal, a colaboração e o pertencimento, criando um ambiente de respeito e oportunidades para todos.

JCN - Na realidade, qual o papel social das Bandas, Fanfarras e Orquestras?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - O papel social das Bandas, Fanfarras e Orquestras é promover a inclusão, o desenvolvimento pessoal e a integração comunitária. Elas oferecem oportunidades culturais, estimulam o trabalho em equipe e a disciplina, e ajudam na formação de cidadãos mais conscientes e engajados.


JCN - Qual a atual situação das Bandas Marciais, de Música, Fanfarras e Filarmônicas com relação ao apoio do poder público?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - A realidade do apoio do poder público às Bandas Marciais varia consideravelmente. Enquanto algumas cidades investem significativamente nessa área, outras tendem a se lembrar delas apenas em datas comemorativas, como o 7 de setembro. Infelizmente, não podemos afirmar que recebemos 100% de apoio do poder público; essa não é a realidade atual. No entanto, conseguimos conquistar algumas vitórias com a prefeitura local, embora tenha sido uma luta constante. Tivemos que persistir, insistir e correr atrás, já que a banda é um projeto educacional municipal acredito que o poder público deveria nos procurar, considerando que se trata de um projeto pertencente a eles.

Enfrentamos dificuldades em relação a materiais e fardamentos. Embora recebamos algum apoio, a luta é tão grande que, se não ficarmos em constante busca, nada chega.

JCN - Você acha que onde existe o trabalho com jovens envolvidos com Bandas Marciais o cenário se transforma? Por que? 

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Sim, eu acredito que o cenário realmente se transforma quando os jovens estão envolvidos em projetos como as Bandas Marciais. Hoje, esses jovens se ocupam com o projeto, se doam e deixam de estar nas ruas para estar nos ensaios. Aqui, eles aprendem a trabalhar em equipe, a respeitar uns aos outros e a cultivar carinho e amizade. Pessoalmente, não conhecia muitos dos jovens que são meus alunos hoje, mas a relação que criamos é de um amor e carinho imensos, principalmente quando nos encontramos pelas ruas. Eles têm um respeito enorme uns pelos outros e pelos colegas da banda. Além disso, o projeto fortalece o vínculo com a comunidade e também afasta os jovens de influências negativas, proporcionando um ambiente positivo e construtivo para seu crescimento.

JCN - Quais os principais desafios para colocar uma Banda na rua, através de desfiles cívicos?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - A falta de recursos, desde materiais até logística de transportes.

JCN - Algumas Bandas Marciais vêm desaparecendo. Você acredita que o motivo seria um reflexo da desvalorização da cultura local, bem como a ausência de atividades regulares de arte nas escolas, que inclui ensaios permanentes?

MAESTRO KAIO RICHARDSON - Acredito que o desaparecimento de algumas Bandas Marciais seja o reflexo da desvalorização da cultura local e da falta de investimentos. Além disso, é importante ressaltar a desvalorização do responsável que fica à frente da banda. Ser regente de uma banda marcial não é apenas uma questão de amor; é um trabalho que exige dedicação, noites sem dormir, esforço para fazer fardamentos, correr atrás de materiais e participar de reuniões. No meu caso, por exemplo, é um trabalho realizado sem nenhum tipo de remuneração ou valorização. Muitas vezes, essa falta de apoio financeiro faz com que muitos não consigam continuar à frente da banda, pois precisam trabalhar para se manter. Isso é uma realidade em várias bandas que acabo conhecendo.

 

 

 

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