
Você irá conhecer as diversas Bandas, como espaços de inclusão social e aprendizagem da juventude, tanto musical quanto cidadã, seus regentes, e desafios.
Kaio Richardson Ribeiro Costa, 19 anos, nasceu em Natal/RN, solteiro. Além de regente da Banda Marcial Felipe
Ferreira de Urucará/Arez/RN, trabalha com seus pais e estuda Medicina
Veterinária na UNP (Universidade Potiguar). “Sou apaixonado por música, e, além
da banda, estudo um pouco de violino, clarinete e teclado, instrumentos que
gosto muito”, destacou o maestro ao revelar que seu hobby preferido é a
vaquejada. E disse: “Estou começando nesta área, caminhando aos poucos, mas já
amo demais essa prática”.
JORNAL CLARIM NATAL/RN – Há quanto tempo você é regente da Banda Marcial Felipe Ferreira de Arez/RN?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Eu iniciei como Maestro da Banda Marcial Felipe Ferreira em
2023, então já são dois anos de dedicação e aprendizado à frente da banda.
JCN - Como chegou a ser maestro/regente?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Minha trajetória como
regente começou com uma paixão antiga por Bandas Marciais. Durante o ensino
médio, estudei na Escola Antônio de Souza, em Parnamirim, onde tive a
oportunidade de tocar na Banda Marcial Antônio de Souza sob a maestria de
Alcilene Costa.
Foi meu primeiro contato com esse mundo que eu
já admirava há muito tempo, e tocar ali foi a realização de um grande desejo.
A experiência foi tão encantadora que só
reforçou meu amor pela música e pelas bandas marciais. Depois que terminei o
Ensino Médio, não tive como continuar na Banda, mas descobri que aqui, na
Escola Felipe Ferreira, haviam chegado instrumentos para formar uma Banda
Marcial.
No entanto, o projeto estava parado, pois não
havia ninguém para liderá-lo. Foi então que decidi conversar com a diretora
Sueli, que acolheu minha ideia de tirar os instrumentos das caixas e
transformar o sonho em realidade.
Começamos com poucos recursos, cerca de 15 instrumentos, mas com muito esforço e dedicação, conseguimos fazer o projeto crescer. Hoje, a Banda Marcial Felipe Ferreira é uma realidade que representa nossa comunidade, e tenho orgulho de ser seu regente desde 2023, liderando e inspirando outros jovens a viverem essa experiência incrível.
JCN - Qual a importância de estar à frente de uma Banda Marcial como maestro?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Estar à frente de uma
Banda Marcial como maestro é uma grande responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma
realização pessoal. É gratificante poder guiar meus alunos a trabalhar em
equipe e contribuir para o crescimento deles, tanto musical quanto pessoal. Além
disso, é incrível ver como a banda unir a comunidade e levar cultura e alegria
para as pessoas.
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Banda Marcial Felipe
Ferreira de Arez/RN é composta por 80 componentes.
JCN - Qual é a sua grande vitória como regente?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Minha maior vitória
como regente é ver um projeto como esse se desenvolvendo na minha comunidade,
um lugar onde ninguém nunca imaginou que algo assim poderia acontecer. É muito
mais do que uma banda; é um espaço de acolhimento para jovens e crianças, onde
um sonho que um dia foi meu e também de alguns pais desses alunos se tornou
realidade. A maior recompensa é perceber a alegria de cada um, seja nos
ensaios, nos desfiles, nas brincadeiras ou até nos momentos mais emocionantes.
É sobre o amor, os laços criados e a transformação que esse projeto trouxe para
a vida de todos nós. Isso, para mim, é a maior vitória.
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Sim, as Bandas Marciais
e as Bandas de Música são espaços de inclusão social, pois oferecem acesso à
cultura e à educação para jovens de diferentes realidades. Elas promovem o
desenvolvimento pessoal, a colaboração e o pertencimento, criando um ambiente de
respeito e oportunidades para todos.
JCN - Na realidade, qual o papel social das Bandas, Fanfarras e Orquestras?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - O papel social das Bandas, Fanfarras e Orquestras é promover a inclusão, o desenvolvimento pessoal e a integração comunitária. Elas oferecem oportunidades culturais, estimulam o trabalho em equipe e a disciplina, e ajudam na formação de cidadãos mais conscientes e engajados.
JCN - Qual a atual situação das Bandas Marciais, de Música, Fanfarras e Filarmônicas com relação ao apoio do poder público?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - A realidade do apoio do
poder público às Bandas Marciais varia consideravelmente. Enquanto algumas
cidades investem significativamente nessa área, outras tendem a se lembrar
delas apenas em datas comemorativas, como o 7 de setembro. Infelizmente, não
podemos afirmar que recebemos 100% de apoio do poder público; essa não é a
realidade atual. No entanto, conseguimos conquistar algumas vitórias com a
prefeitura local, embora tenha sido uma luta constante. Tivemos que persistir,
insistir e correr atrás, já que a banda é um projeto educacional municipal
acredito que o poder público deveria nos procurar, considerando que se trata de
um projeto pertencente a eles.
Enfrentamos dificuldades em relação a materiais
e fardamentos. Embora recebamos algum apoio, a luta é tão grande que, se não
ficarmos em constante busca, nada chega.
JCN - Você acha que onde existe o trabalho com jovens envolvidos com Bandas Marciais o cenário se transforma? Por que?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Sim, eu acredito que o cenário realmente se transforma quando os jovens estão envolvidos em projetos como as Bandas Marciais. Hoje, esses jovens se ocupam com o projeto, se doam e deixam de estar nas ruas para estar nos ensaios. Aqui, eles aprendem a trabalhar em equipe, a respeitar uns aos outros e a cultivar carinho e amizade. Pessoalmente, não conhecia muitos dos jovens que são meus alunos hoje, mas a relação que criamos é de um amor e carinho imensos, principalmente quando nos encontramos pelas ruas. Eles têm um respeito enorme uns pelos outros e pelos colegas da banda. Além disso, o projeto fortalece o vínculo com a comunidade e também afasta os jovens de influências negativas, proporcionando um ambiente positivo e construtivo para seu crescimento.
JCN - Algumas Bandas Marciais vêm desaparecendo. Você acredita que o motivo seria um reflexo da desvalorização da cultura local, bem como a ausência de atividades regulares de arte nas escolas, que inclui ensaios permanentes?
MAESTRO KAIO RICHARDSON - Acredito que o
desaparecimento de algumas Bandas Marciais seja o reflexo da desvalorização da
cultura local e da falta de investimentos. Além disso, é importante ressaltar a
desvalorização do responsável que fica à frente da banda. Ser regente de uma
banda marcial não é apenas uma questão de amor; é um trabalho que exige
dedicação, noites sem dormir, esforço para fazer fardamentos, correr atrás de
materiais e participar de reuniões. No meu caso, por exemplo, é um trabalho
realizado sem nenhum tipo de remuneração ou valorização. Muitas vezes, essa
falta de apoio financeiro faz com que muitos não consigam continuar à frente da
banda, pois precisam trabalhar para se manter. Isso é uma realidade em várias
bandas que acabo conhecendo.
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