quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

No Ritmo das Bandas Marciais

 



O Jornal Clarim Natal vem realizando entrevistas com maestros e maestrinas de Bandas Marciais, Fanfarras e Orquestras.

Você irá conhecer as diversas Bandas, como espaços de inclusão social e aprendizagem da juventude, tanto musical quanto cidadã, seus regentes, e desafios.

Confira a 4ª entrevista com a Maestrina Alcilene Costa de Lima da Banda Marcial Alzelina de Sena Valença, Parnamirim/RN

 



Alcilene Costa de Lima, 22 anos, nasceu em Natal/RN, solteira. Além de regente da Banda Marcial Alzelina de Sena Valença de Parnamirim há 3 anos, é instrutora de Laboratório em uma escola de cursos profissionalizantes no turno da manhã e auxiliar de sala de aula em uma Escola Municipal de Natal no turno da tarde. 

 

JORNAL CLARIM NATAL - Há quanto tempo você é maestrina/regente da Banda Alzelina de Sena Valença?

ALCILENE - Em 2017, tive uma oportunidade em uma Banda Marcial mais conhecida da cidade de Parnamirim para reger em um desfile. E há 3 anos iniciei a regência desta banda a qual estou hoje, no caso, desde 2018.

 

JCN - Como chegou a ser maestrina?

ALCILENE - No 4° ano (2009) do meu Ensino Fundamental, eu dei início a minha paixão, tocando um instrumento chamado Bumbo, e até o ano de 2017 eu toquei quase todos os instrumentos possíveis. Já em 2018 eu fui pega de surpresa e me pus a frente de uma Banda Marcial. 

 

JCN - Qual a importância de uma mulher estar à frente de uma Banda Marcial como Maestrina?

ALCILENE - Por muito tempo, nas diversas vezes que ouvimos falar em sete de setembro vem à cabeça aquela predominância de uma enorme presença masculina, dominando ou sempre a frente de uma multidão. Atualmente ver uma figura feminina dominar e coordenar uma Banda nas ruas, dominar instrumentos e composições é poder afirmar que as mulheres  sempre tiveram seu próprio espaço, suas próprias conquistas e saber dominar todo esse mundo complexo de uma Banda Marcial é uma grande missão. E eu como mulher, prezo por mostrar que assim como eu outras figuras femininas podem mostrar sua  essência, seu talento à frente de uma Banda que atualmente traz um símbolo tão importante para uma data representativa para o Brasil.  É um orgulho mostrar talentos e ver que ainda existem muitos tabus que precisam ser derrubados em relação a figura feminina. Hoje me sinto grata em ser um símbolo, um exemplo para tantas outras pessoas, pelo simples fato de acreditar no potencial da figura feminina. 


JCN - A Banda Alzelina de Sena Valença é composta por quantos membros?

ALCILENE - No ano de 2018, a Banda era composta por 25 membros, pois eu havia acabado de chegar na regência, faltando apenas 3 meses para as apresentações. Atualmente temos 56 membros, junto com corpo coreógrafo. 

 

JCN - Qual é a sua grande vitória como regente?

ALCILENE - A minha maior vitória é ver o entusiasmo, o querer aprender, a curiosidade em aprender a tocar um instrumento que os jovens e adolescentes têm ao ter o privilégio de participar de uma Banda como a Banda Marcial. Ver a conquista de todos os componentes da Banda em sair do zero e chegar no topo, sabendo dominar aquele instrumento, é algo muito satisfatório. Hoje meu maior orgulho é poder compartilhar o meu conhecimento com  eles e sendo assim, juntos podemos mostrar que pequenos detalhes fazem grandes diferenças. 

 

JCN - As Bandas Marciais e Bandas de Música são espaços de inclusão social? Por quê? 

ALCILENE - Sim. Eu credito que a música em si seja um instrumento de inclusão, e com as bandas, se torna não só um passa tempo, como também ocupa a mente e o tempo livre dos jovens, mostrando um caminho a ser seguido. 

 



 

JCN - Na realidade, qual o papel social das Bandas, Fanfarras e Orquestras?

ALCILENE - Como falei anteriormente, diante uma grande arma de inclusão, estão trazendo jovens para serem acolhidos e tornando-os profissionalizantes da música. 

 

JCN - Qual a atual situação das Bandas Marciais, de Música, Fanfarras e Filarmônicas com relação ao apoio do poder público?

ALCILENE - Certamente podemos notar que em alguns municípios o apoio se torna maior do que em alguns outros. Dessa forma é apenas seguir com o nosso trabalho para que sejamos capazes de dar continuidade em todos os respectivos anos. 

JCN - A sua Banda recebe incentivo do poder público? 

ALCILENE - Recebemos um pequeno apoio da Câmara dos vereadores de Parnamirim, mas, não é contínuo, é esporádico. 

 

JCN - A Banda é filiada a alguma Associação ou Federação?  Qual? 

ALCILENE - Não somos filiadas a nenhuma Associação

 

JCN - A Banda recebe algum apoio financeiro ou outro tipo de colaboração?

ALCILENE - Recebemos um pequeno apoio financeiro da escola, a qual fazemos parte e também não é contínuo. Muitas vezes tirando do próprio bolso. 

 

JCN - Quais os principais desafios para colocar uma Banda na rua, através de desfiles cívicos? 

ALCILENE - Nossa Banda é composta por 90% de alunos menores de idade, então a maior dificuldade é de levarmos eles nesse mundo, o qual está muito perigoso. Os pais muitas vezes querem ir junto, mas nem sempre têm lugar no ônibus sobrando. Entre outras dificuldades, também está a escassez de "ajuda" anual para todas as bandas, onde necessitamos de materiais para o nosso trabalho, como (peles, baquetas e talabarts). 

 

JCN - Diversas Bandas Marciais, de Música e Fanfarras se acabaram, afetando diretamente a cultura e a área musical. Em sua opinião, o que fazer para resgatá-las?

ALCILENE - Em nossa cidade, Parnamirim, havia projetos antigamente para a junção de todas as Bandas Marciais, Fanfarras e Filarmônicas de Parnamirim e cidades convidadas. Acredito que novos projetos, novos eventos como concursos levando a premiações, haverá uma volta 100% de todas as bandas. 

 

JCN - Qual mensagem você deixaria para o poder público? 

ALCILENE - Não aceitaremos mais esse descaso sobre nós, precisamos de confiança, apoio e respeito. Só levam em conta o 7 de setembro, e somos bem mais do que apenas isso. 

 

JCN - Qual mensagem você deixaria para os amantes das Bandas Marciais, de Música?

ALCILENE - Nós, amantes da cultura musical, somos excepcionalmente incríveis. Além de não sermos levados em consideração diversas vezes, não desanimem. Cada um de nós somos capazes de construir e reconstruir tudo o que amamos.

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