segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mais oportunidades no ano da Copa

Andrielle Mendes
repórter

O Rio Grande do Norte encerrou 2013 com o pior desempenho na geração de empregos dos últimos três anos. Só a indústria de transformação, capitaneada pela indústria têxtil e de confecções, fechou 5.108 postos de trabalho com carteira assinada de 2010 até agora. Ainda assim, o RN conseguiu abrir mais de 10 mil vagas e elevar em 1,65% o número de pessoas empregadas formalmente, segundo cálculos da Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo do RN (Fecomércio/RN).

                       Foto: Divulgação/Tribuna do Norte

 Comércio e serviços de hospedagem esperam maior número de contratações de empregados para atender demanda da Copa
 
O ano de 2014, entretanto, será mais favorável. Haverá vagas. E muitas, garante Marcelo Queiroz, presidente da  Fecomércio/RN. Copa, obras públicas, operacionalização do Aeroporto Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante. Tudo isso deverá aquecer o mercado de trabalho e reaquecer a economia local. “A Copa vai gerar oportunidades em diversos segmentos. Além disso, investimentos públicos estão sendo retomados, em função do Mundial, o que faz circular dinheiro novo na economia”, pontua Queiroz. As oportunidades deverão se concentrar em três setores: construção civil, comércio e serviços - os dois últimos foram responsáveis por mais de 90% de todas as vagas abertas no último ano.

O setor da construção civil, que encerrou 2013 demitindo mais do que contratando, vai abrir um número maior de postos de trabalho este ano, preveem Ana Adalgisa, diretora executiva do Sindicato da Indústria da Construção Civil do estado (Sinduscon/RN), e Larissa Dantas, vice-presidente.

O ritmo mais lento de contratações e o aumento do número de imóveis em estoque, segundo elas, não sinalizam uma retração do setor. “Ainda temos muitas obras pela frente. É por isso que digo que vamos ter um ano bom para a construção civil”, afirma Ana Adalgisa.

Na contramão do crescimento, seguirá a indústria de transformação e a agropecuária, que, a exemplo do setor industrial, não deverá gerar tantas oportunidades de emprego. Nem a fruticultura irrigada terá um bom ano, se não chover, alerta José Vieira, presidente da Federação da Agropecuária no RN (Faern).

A seca reduziu o nível dos poços e reservatórios e inviabilizou várias culturas, entre elas a do caju, a do mel de abelha e até a da cana de açúcar.  Algumas usinas, como a Vale Verde, em Baía Formosa, registraram no ano passado o pior resultado de sua história. Em função da queda na receita,  deverão contratar menos pessoas para o plantio e colheita.

Os industriais também enfrentam dificuldades. O caminho percorrido por eles no estado e no país está repleto de obstáculos e pelo menos nesse momento será difícil acelerar o passo, admite Amaro Sales, presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern). “Não se pode descartar que a crise mundial continua e que há gargalos estruturais que ainda não foram vencidos no país, atrapalhando assim a geração de postos de trabalho”, analisa William Pereira, doutor em Ciências Sociais, professor do departamento de Economia e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade da UFRN.

Desaceleração na indústria provoca efeito dominó
A desaceleração da indústria se faz visível no fechamento de postos de trabalho e provoca efeitos em toda a cadeia produtiva, analisa William Pereira, doutor em Ciências Sociais, professor do departamento de Economia e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Trabalho, Inovação e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Quando a produção cai, a oferta de insumos diminui e os preços ficam mais elevados, prejudicando os setores que dependem desses insumos. O desemprego na indústria, por sua vez, aumenta a oferta de trabalhadores em outros setores, aumentando a concorrência, e favorecendo a estagnação ou redução dos rendimentos da categoria”, esclarece o economista.

E não é só isso. Toda a economia passa a girar de forma  mais lenta, quando a indústria desacelera, acrescenta Amaro Sales, presidente da Fiern. “A indústria é, por si só, um centro de muitos negócios para seus fornecedores de bens e serviços. É por isso que quando a indústria vai mal, o país vai mal”, afirma.

Amaro defende a adoção de uma série de medidas para devolver à indústria a competitividade que ela precisa para voltar a crescer com mais velocidade. “Precisamos criar um ambiente de negócios que estimule a produção, dotar o país de infraestrutura e logística, de uma reforma trabalhista e previdenciária que possibilite a diminuição do custo do emprego formal, além de crédito mais barato e acessível”.

Mercado local se ressente de qualificação
“Há vagas”. Mesmo em meio a desaceleração da economia, tem sempre alguém contratando. O problema é que às vezes o que falta é qualificação. Matéria publicada pela TRIBUNA DO NORTE no dia 10 de novembro de 2013 já evidenciava esse descompasso. No Midway Mall, shopping que costuma abrir quase mil vagas temporárias no final do ano, cerca de 80% dos currículos que chegam são descartados. A situação é semelhante em outros shoppings da cidade. “Falta qualificação técnica e competência comportamental por parte dos candidatos”, aponta Lígia Silva, gerente de diretrizes educacionais do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial no Rio Grande do Norte (Senac/RN).

Para Marcelo Queiroz, presidente da Fecomércio/RN, entidade que representa os setores que mais contratam no estado, a falta de qualificação ainda é o grande nó do país. “Por anos a fio o Brasil deixou o investimento em educação em segundo plano. É por isso que falta base para muitas pessoas”, observa.

O economista William Pereira, professor da UFRN, acrescenta que o “nó” está também no fato de que muitos trabalhadores negligenciam a qualificação. “Eles acreditam que basta ter o certificado que o emprego está garantido. Na verdade, o certificado só é válido, quando ele representa realmente o conhecimento. Conhecimento que exige estudo, “trabalho” árduo sobre os livros e nas aulas”.

O economista Marcus Guedes pensa parecido. “Os profissionais, de um modo em geral, têm de estar em contínuo aprendizado. E preparados para mudanças de rumo. O mundo do trabalho se traduz na razão da sobrevivência do cidadão. É preciso estar em contínua vigilância. Estar preparado para enfrentar novos desafios, em novas empresas, novos cargos e encargos”.

Para que um número maior de vagas seja preenchido e os trabalhadores dispensados pela indústria ou qualquer outro setor consigam atuar nos setores do comércio e serviços, o Senac tem oferecido uma série de cursos, ressalta Marcelo Queiroz. Alguns deles gratuitos.

“Em 2013, através do Senac, apacitamos e qualificamos cerca de 45 mil pessoas. Deste total, nada menos que 27 mil foram vagas gratuitas, em quase uma centena de municípios potiguares, em projetos como o Pronatec e o Programa Senac de Gratuidade, executado com recursos exclusivamente do Senac, ou seja, recursos dos empresários do Comércio e dos Serviços. Para 2014, devemos qualificar 60 mil pessoas, sendo 40 mil em vagas gratuitas.”RN (Fecomércio/RN).
Tribuna do Norte

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