Um episódio, dia desses, me deixou curioso. Vi alguém tremendo,
arfando, nervoso por conta de uma determinada situação, com a qual, graças a
Deus, eu não tive nenhum envolvimento. Fui apenas um privilegiado espectador da
cena. Daí me dei conta de como é estranho o tremer das pessoas diante de
dificuldades, de conflitos, de fortes emoções. Até parece, nessas situações,
que o organismo humano age no sentido contrário ao da lógica. Ao invés de nos
endurecer psicologicamente, de enrijecer nossa mente diante da necessidade
premente do embate; ao invés de impor um rigoroso controle sobre nossas
emoções, nos preparando para vencer o inimigo, seja ele qual for, nos põe a
tremer, a balbuciar, a perder totalmente o domínio sobre o raciocínio e a
tomada de decisões. Então, pensando daqui, pensando dacolá, descobri ser o
tremer um companheiro originário e inseparável da ira e do medo.
Logicamente, falo do tremer que não está ligado à manifestação de doenças
biológicas. Sabe-se de distúrbios neurológicos que levam a pessoa, por mais
dócil que seja, a viver tremendo de maneira incontrolável. O tremer que
relaciono aqui é o que vem da ira, da raiva, do ódio, do descontrole das
emoções, e também do que se origina do medo, da ansiedade, da dúvida, da
incerteza. Este é o pavor do desconhecido, do amanhã, dos desafios, e que leva
o organismo a sinalizar, de forma clara e visível, que a carga sobre a pessoa
passou dos limites – ou, no mínimo, que o problema, na origem de tudo,
está mal administrado. O que se conclui é que o tremer é uma sinalização
bastante evidente do momento em que o corpo, a estrutura física e psicológica
da qual somos dotados, não tem mais como controlar a situação. E vê no fenômeno
a única condição de sinalizar que se aproxima a instalação do caos.
A conseqüência, no médio e longo prazo, é a chegada da depressão, da covardia,
da inoperância ao enfrentamento dos problemas do cotidiano. O tremer que advém
do medo corrói as pessoas por dentro, tornando o seu viver insípido, fugidio,
carregado de uma desesperança sem fim, cujo desfecho, muitas vezes, é a
tentativa da morte através do suicídio. O outro tremer, o que advém da ira, do
ódio, tem manifestação passageira, é mais ocasional. Suas conseqüências, no
entanto, podem deixar marcas profundas e prejuízos irremediáveis na vida do
irado e das pessoas que transitam ao seu redor. Más querenças, agressões,
quebradeiras, amizades e relacionamentos desfeitos, cizânias, desuniões, são
frutos do descontrole daí advindo. O destino final desses casos deságua nas
UTI’s dos hospitais, pelos acidentes cardiovasculares, ou nas delegacias
de polícia, pelos homicídios daí decorrentes.
O tremer, enfim, não é um bom companheiro. Além de corroer por dentro,
demonstra, quando explode exteriormente, a perda do controle da situação
– com sua alta taxa de imprevisibilidade. E qual a solução? Receita
pronta não existe. Todavia, é salutar evitar a instalação do extremo nas
emoções e cultivar companhias e ambientes que não tragam sentimentos de
conflito. Segundo a Bíblia, “um abismo puxa outra abismo”, ou seja,
um problema acarreta o surgimento de outro problema – de proporções
maiores e de conseqüências inimagináveis. A Bíblia também nos exorta a
“fugir da aparência do mal”. Ou seja, é melhor evitá-lo do que
confrontá-lo. Domínio próprio, outro instrumento poderoso, do qual fomos
dotados interiormente para uso em situações de conflito, também se impõe ser
exercitado. Com isso, o tremer poderá ser vencido. E vantagem maior: a
qualidade de vida continuará a ser preservada.
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