domingo, 11 de dezembro de 2016

“A minha tendência orienta meus posicionamentos políticos, mas é uma tendência do PT. Será um mandato petista, antes de tudo”, Vereadora eleita Natália Bonavides

Em entrevista ao Programa A Hora das Comunidades na Rádio 87.9 FM Litoral Norte, no dia 22 de Novembro, a Vereadora eleita Natália Bonavides (PT) falou sobre assuntos como sua campanha, vitória, e também as diversas tendências do partido.

Natália Bastos Bonavides, 28 anos, casada, advogada e mestre em Direito Constitucional pela UFRN, foi eleita vereadora para o mandato 2017/2020 pelo PT (Partido dos Trabalhadores), obtendo a 5ª maior votação com 6.202 votos.
Natália foi uma das autoras do habeas corpus que impediu a remoção violenta dos estudantes da Câmara Municipal em 2011.

Natália Bonavides é a primeira mulher eleita do PT em Natal.

Confira a entrevista na íntegra:
Jeferson Andrade, Vereadora eleita Natália Bonavides e Edward Rocha

Edward Rocha - Quem é Natália Bonavides?

Natália Bonavides – Tenho 28 anos, sou advogada desde 2011, me formei em Direito na UFRN, depois entrei no mestrado em Direito Constitucional na UFRN. Minha militância começou no movimento estudantil, fui do Centro Acadêmico de Direito e lá a gente começou a criar um projeto, chamado Escritório Popular que faz assessoria jurídica a movimentos sociais a questões coletivas, e também houve a participação no projeto da Educação Popular em Direitos Humanos. Foi um espaço muito importante pra minha formação política pra ter contato com as demandas da população. Me filiei ao PT no início de 2012 aproximadamente, desde então venho fazendo essa militância partidária e nesse ano foi a primeira vez que fui candidata.

Jeferson Andrade - Você trabalha com o MST (Movimento Sem Terra) e outros movimentos sociais desde quando estudava direito na UFRN.  Nos fale um pouco sobre estas atividades.

Natália Bonavides – A gente chegou a dar assessoria jurídica popular que significa assessoria a movimentos sociais à questões coletivas. No caso do MST, por exemplo, a gente faz esse trabalho com a luta pelo direito à terra. A gente sabe que está na Constituição Federal a função social da terra, que é isso que justifica que exista a lei que prevê a reforma agrária e o MST é um dos movimentos que faz essa luta pela reforma agrária, pelo acesso justo à terra, acesso digno ao trabalho. E a assessoria no sentido jurídico de fazer a proteção, a defesa quando necessário. É um dos movimentos com os quais atuo, mas não o único, são vários outros. Tem o MLB que é o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas; O Movimento da População em Situação de Rua; vários coletivos que lutam por direitos aqui em Natal e no Estado.

Jeferson Andrade - Que avaliação você faz sobre sua campanha, quando obteve uma expressiva votação em pleno momento de crise nacional que o PT vem enfrentando?

Natália Bonavides – Acho que esse resultado foi realmente expressivo, 6.202 votos; como você disse, foi a primeira mulher vereadora do PT de Natal; até hoje então não tínhamos eleito nenhuma  mulher pra Câmara Municipal de Natal, o PT, e também foi a maior votação na história do PT na Câmara Municipal de Natal.

E a gente tem avaliado muito que esse resultado expressivo se deve a forma como foi construída a campanha. A gente fez de forma muito participativa, muito colaborativa, horizontal, chamando mesmo a população pra o debate. Fizemos vários eventos abertos sobre temas de direito a cidade, direitos das mulheres, direito a educação, a saúde, e chamando mesmo a população pra debater.

E a gente viu que falta espaço pra que as pessoas possam trazer suas pautas, demandas. Fizemos a campanha de mãos dadas com vários movimentos sociais e populares. Isso também foi essencial pra o resultado obtido; está junto do povo, da população que a gente pretende representar na Câmara.


Edward Rocha - Você faz parte da corrente de esquerda do PT. Em seu mandato vai dar continuidade ao seu posicionamento?

Natália Bonavides – A corrente da qual faço parte no PT chama Articulação de Esquerda. Existem várias correntes de pensamento, várias tendências no PT. Por que existe isso? Isso vem do surgimento do Partido dos Trabalhadores, nos anos 80, que foi uma junção de várias esquerdas diferentes, uma diversidade muito grande no campo progressista.

Então, pra juntar esse povo todo precisava que todo mundo tivesse o direito de manter sua diversidade de pensamento lá dentro. É por isso que a gente no PT se constrói, se organiza em tendências, em correntes. Já que eu faço parte de Articulação de Esquerda, continuarei fazendo parte durante o mandato, mas é um mandato acima de tudo petista. Não é um mandato de uma tendência, de outra tendência.

A minha tendência orienta meus posicionamentos políticos, mas é uma tendência do PT. Será um mandato petista, antes de tudo.

Jeferson Andrade - Como pretende pautar seu mandato no próximo ano?

Natália Bonavides – Vamos iniciar em breve um processo de planejamento, que também será uma construção coletiva, como anunciamos na campanha que faríamos. Vai ser abrir algumas séries de debates pra ouvir da população quais são as prioridades que se acham importantes que uma vereadora paute lá na Câmara. Vamos fazer isso com vários dos movimentos que nos ajudaram na construção da campanha, com os vários setores que passam por situações de violação de direitos aqui na cidade.

E nesse planejamento vamos decidir as estratégias de atuação, os principais eixos temáticos, mas já posso adiantar que com certeza a questão da mulher e juventude serão dois eixos sobre os quais teremos bastante foco, até porque meu próprio perfil de ser mulher, ser jovem sempre foi uma proposta de representar essas duas categorias que são tão sub-representadas hoje na Câmara. Mesmo que tenha crescido, no caso, da bancada feminina nessa legislatura que está acabando, nós temos quatro mulheres; a partir do ano que vem teremos oito, o que vai ser muito importante. Mas ainda são oito em 29, então ainda somos sub-representadas em relação à nossa proporção, na população, entre o eleitorado, e essa é uma das coisas que a gerente vai pautar com muita força.


Edward Rocha - Você vai fazer um mandato de oposição ao prefeito reeleito Carlos Eduardo do PDT?

Natália Bonavides – É isso mesmo. Nosso mandato vai ser um mandato de oposição sim, mas claro, de oposição responsável. De oposição de quem conhece tem conhecido as pautas do serviço público da cidade, as pautas de como a política vem sendo construída na cidade.

A gente vê que está precisando haver uma crítica muito séria. Esta questão do serviço público tem sido extremamente crítica no atraso dos salários dos servidores.

Jeferson Andrade - Qual será sua bandeira nos quatro anos de seu mandato?

Natália Bonavides – Levantaremos as bandeiras das mulheres, da juventude, bandeira da classe trabalhadora que é quem mais tem sofrido ataques nesses tempos de Governo Temmer, depois do golpe que aconteceu com a retirada da presidenta Dilma.

As bandeiras dos direitos humanos também, que foi por onde mais construí minha militância, em direitos humanos, que é direito de toda cidadã, cidadão, que tem que ser garantido também no legislativo, defendido, principal essa defesa da classe trabalhadora que é quem tem sofrido mais com os impactos da crise pelo qual nosso País está passando.

Edward Rocha - Já tem algum projeto para iniciar sua gestão?

Natália Bonavides – Como a campanha foi muito colaborativa, coletiva, nos vários eventos que a gente fez, por exemplo, sobre direito das mulheres, direito a cidade, mobilidade urbana, a iniciativa da população com as demandas específicas que estava identificando na hora, que a gente estava transformando em projetos que vão ser apresentados na legislatura.

Então a gente está fazendo a partir dessa coleta de opiniões e de demandas que a gente fez durante a campanha. Estamos nesse processo de sistematizar pra poder identificar quais já poderão ser ou não transformados em projetos de lei.

Jeferson Andrade – Você foi autora do habeas corpus que impediu a remoção violenta dos estudantes da Câmara Municipal em 2011. Como foi?
Natália Bonavides – Em 2011 nossa prefeita na época era Micarla e estava havendo uma série de denúncias em relação a aluguéis irregulares, de imóveis que não eram usados e na mesma época também estava havendo um movimento chamado Fora Micarla, que também teve relação com o aumento das passagens. E uma dessas manifestações, esse movimento culminou numa ocupação da Câmara de Vereadores. Vários estudantes, categorias do movimento estudantil entraram na Câmara e lá fizeram um acampamento, uma ocupação e reivindicaram que fosse criada uma Comissão, tipo uma CPI, que na Câmara a gente chama de Comissão Especial de Inquérito pra investigar esses contratos de aluguéis da Prefeitura. Essa era a pauta daquela ocupação a investigação daqueles contratos e aí houve uma decisão pra que os estudantes se retirassem sob força policial. Foi no dia 15 de junho de 2011.
Eu fazia parte, junto com outros estudantes de Direito e outros estudantes da Comissão Jurídica do acampamento. A gente fez esse habeas corpus no STJ que reverteu a decisão do Tribunal de Justiça do Estado e garantiu que os estudantes podiam ficar lá, não deveriam ser expulsos pela polícia e continuaram sua reivindicação e acabou dando certo. Dois dias depois foi instalada essa Comissão de Investigação no âmbito da Câmara. Os resultados foram enviados ao Ministério Público e o resto vocês já sabem.
Jeferson Andrade - Hoje o Vereador reeleito Raniere Barbosa anunciou que deixa a liderança do Prefeito Carlos Eduardo na Câmara de Natal, que por sua vez anuncia Júlio Protásio como seu novo líder, ou seja, será um líder interino até o mês de janeiro. No entanto, o vereador Júlio Protásio não foi reeleito, já que não foi candidato, mas sua cadeira será ocupada pela esposa, a vereadora eleita Ana Paula Protásio que já cogita votar no Vereador Raniere Barbosa para a presidência daquela Casa. Como você analisa essa situação?


Natália Bonavides – O Vereador Raniere, pré-candidato à presidência da Câmara, está existindo aparentemente uma divergência dentro do partido do prefeito, o mesmo do Vereador Raniere, não sei dizer as razões, mas acho que isso dará algum impacto nas eleições da Mesa Diretora.
Edward Rocha - Com relação à eleição da presidência da Câmara, que já vive um momento tenso de conversas e decisões, onde existem três postulantes ao cargo, os vereadores Raniere Barbosa, Kleber Fernandes e Franklin Capistrano. Você já definiu quem vai apoiar?

Natália Bonavides – Não. Ainda estamos debatendo essa questão. Cheguei a conversar com o Vereador Raniere, o Vereador Franklin, mas como falei pra eles, estamos num processo de conversar com alguns setores da sociedade civil pra colher algumas propostas que vamos apresentar às chapas. A partir da adesão ou não nessas chapas, a essas propostas trazidas pela sociedade civil, que são propostas de mais transparência, uma Câmara mais republicana, a gente vai debater junto ao partido a posição a ser tomada em relação à Mesa Diretora.

Jeferson Andrade – O que a juventude tem pensado sobre esse desgoverno Temmer, com muitos cortes na educação?

Natália Bonavides – Dentro de tantas notícias ruins, de ataques aos direitos dos trabalhadores, tem aquela flecha de luz que deixa a gente animada, com esperança é ver que a juventude tem sido um dos nossos principais protagonistas na resistência a esse ataque, a esse avanço, a essa retirada de direito. A juventude, o movimento estudantil dando uma aula cívica, de cidadania e que como nosso direitos foi retirado a gente não pode ficar olhando, passivo. E isso que a juventude tem feito. Não tem deixado o Governo Temmer fazer todos esses desmandos sem que nenhum ai seja dito. Tem sido muito importante o protagonismo da juventude na reação a esse golpe.

Edward Rocha – Com relação à quantidade de votos era o que você esperava e onde mora Natália?

Natália Bonavides – Em relação aos votos, havia pessoas na coordenação da campanha que já avaliavam que seria uma média por aí, porque estava vendo a campanha crescendo na cidade, inclusive nós somos uma candidatura que teve votos em todos os colégios eleitorais da cidade. Não só foi distribuído em todas as Zonas, como em todos os colégios teve votos. Foi realmente difundida na cidade, realmente ganhou a cidade.

E onde eu moro? Na Zona Leste, na Cidade Alta.

Jeferson Andrade - Deixe uma mensagem para os ouvintes e internautas.

Natália Bonavides – A mensagem que eu quero deixar é um chamado, uma convocação pra participação política. Eu sei que está sendo muito difícil nesses tempos, a gente vendo tudo que tem acontecido em nosso País. Tem sido muito difícil até querer se interessar por esse tema. Mas a mensagem que queria passar é ao contrário. A gente vendo tudo isso acontecer, aí é que a gente não pode mesmo deixar de se informar, ter um olhar crítico sobre o que tem acontecido e de se movimentar, se organizar, está em contato com quem trabalha com a gente, da classe trabalhadora junto com a gente. O que a gente pode fazer pra combater tudo isso, todos esses avanços dos nossos direitos que tem acontecido.

Acho que a mensagem é essa. Que a gente não deixe nunca de se indignar com o que acontece. Não se omita, não fique tão indignado a ponto de se abster, mas que fique indignado a ponto de querer agir, de querer a mudança das coisas.

E conto com isso também pra o próprio mandato. A gente não tem como fazer um mandato só dentro das quatro paredes da Câmara, a gente tem que fazer um mandato pra fora da Câmara, dialogando com a população, e pra isso é muito importante a participação do povo.

Jeferson Andrade - A maioria da população não acompanha o que acontece na Câmara Municipal e não participa das audiências? 

Natália Bonavides – Está havendo esse momento mesmo de descrença. Uma reação a tudo que está acontecendo. Uma reação de decepção, que a gente entende, mas que a gente faz esse apelo que também é responsabilidade da gente, nós que fomos eleitos, de quebrar essa barreira, essa imagem que as pessoas tem tido na política e reverter, porque a gente sabe que quem não gosta de política é governado por quem gosta. Então, o melhor que a gente faz é se interessar, se informar e participar porque senão outras pessoas vão tomar as decisões por nós. Cabe a gente que foi eleito, ajudar nessa aproximação dos espaços políticos, dos legislativos, do executivo com a população, divulgando o que vai ser feito, fazendo audiências fora da Câmara, na comunidade, fazendo atividades fora do espaço físico da Câmara. É uma responsabilidade que a gente tem pra quebrar um pouco esse conceito que as pessoas estão tendo da política.

E lembrar que sem política as decisões principais que afetam desde o preço do pão até o preço da água, da energia têm que ser tomadas com participação.

Direção e Produção: Jornalista Waldilene Farias


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