Em entrevista ao Programa A Hora das Comunidades na Rádio 87.9
FM Litoral Norte, no dia 22 de Novembro, a Vereadora eleita Natália Bonavides
(PT) falou sobre assuntos como sua campanha, vitória, e também as diversas
tendências do partido.
Natália Bastos Bonavides, 28 anos, casada, advogada e mestre
em Direito Constitucional pela UFRN, foi eleita vereadora para o mandato
2017/2020 pelo PT (Partido dos Trabalhadores), obtendo a 5ª maior
votação com 6.202 votos.
Natália foi uma das autoras do habeas corpus que impediu a remoção
violenta dos estudantes da Câmara Municipal em 2011.
Natália Bonavides é a primeira mulher eleita do
PT em Natal.
Confira a
entrevista na íntegra:
Jeferson Andrade, Vereadora eleita Natália Bonavides e Edward Rocha
Edward Rocha - Quem é
Natália Bonavides?
Natália
Bonavides – Tenho 28 anos, sou advogada desde 2011, me formei em Direito na UFRN,
depois entrei no mestrado em Direito Constitucional na UFRN. Minha militância
começou no movimento estudantil, fui do Centro Acadêmico de Direito e lá a
gente começou a criar um projeto, chamado Escritório Popular que faz assessoria
jurídica a movimentos sociais a questões coletivas, e também houve a
participação no projeto da Educação Popular em Direitos Humanos. Foi um espaço
muito importante pra minha formação política pra ter contato com as demandas da
população. Me filiei ao PT no início de 2012 aproximadamente, desde então venho
fazendo essa militância partidária e nesse ano foi a primeira vez que fui
candidata.
Jeferson Andrade - Você trabalha com o MST (Movimento Sem Terra) e outros
movimentos sociais desde quando estudava direito na UFRN. Nos fale um pouco sobre estas atividades.
Natália
Bonavides – A gente chegou a dar assessoria jurídica popular que significa
assessoria a movimentos sociais à questões coletivas. No caso do MST, por
exemplo, a gente faz esse trabalho com a luta pelo direito à terra. A gente
sabe que está na Constituição Federal a função social da terra, que é isso que
justifica que exista a lei que prevê a reforma agrária e o MST é um dos
movimentos que faz essa luta pela reforma agrária, pelo acesso justo à terra,
acesso digno ao trabalho. E a assessoria no sentido jurídico de fazer a
proteção, a defesa quando necessário. É um dos movimentos com os quais atuo,
mas não o único, são vários outros. Tem o MLB que é o Movimento de Luta nos
Bairros, Vilas e Favelas; O Movimento da População em Situação de Rua; vários
coletivos que lutam por direitos aqui em Natal e no Estado.
Jeferson Andrade - Que avaliação você faz sobre sua campanha,
quando obteve uma expressiva votação em pleno momento de crise nacional que o
PT vem enfrentando?
Natália Bonavides – Acho que esse resultado foi realmente
expressivo, 6.202 votos; como você disse, foi a primeira mulher vereadora do PT
de Natal; até hoje então não tínhamos eleito nenhuma mulher pra Câmara Municipal de Natal, o PT, e
também foi a maior votação na história do PT na Câmara Municipal de Natal.
E a gente tem avaliado muito
que esse resultado expressivo se deve a forma como foi construída a campanha. A
gente fez de forma muito participativa, muito colaborativa, horizontal,
chamando mesmo a população pra o debate. Fizemos vários eventos abertos sobre
temas de direito a cidade, direitos das mulheres, direito a educação, a saúde,
e chamando mesmo a população pra debater.
E a gente viu que falta espaço
pra que as pessoas possam trazer suas pautas, demandas. Fizemos a campanha de
mãos dadas com vários movimentos sociais e populares. Isso também foi essencial
pra o resultado obtido; está junto do povo, da população que a gente pretende
representar na Câmara.
Edward Rocha - Você faz parte da corrente de esquerda do PT. Em seu mandato vai dar
continuidade ao seu posicionamento?
Natália Bonavides – A corrente da qual faço parte no PT chama
Articulação de Esquerda. Existem várias correntes de pensamento, várias
tendências no PT. Por que existe isso? Isso vem do surgimento do Partido dos
Trabalhadores, nos anos 80, que foi uma junção de várias esquerdas diferentes,
uma diversidade muito grande no campo progressista.
Então, pra juntar esse povo
todo precisava que todo mundo tivesse o direito de manter sua diversidade de
pensamento lá dentro. É por isso que a gente no PT se constrói, se organiza em
tendências, em correntes. Já que eu faço parte de Articulação de Esquerda, continuarei
fazendo parte durante o mandato, mas é um mandato acima de tudo petista. Não é
um mandato de uma tendência, de outra tendência.
A minha tendência orienta meus
posicionamentos políticos, mas é uma tendência do PT. Será um mandato petista,
antes de tudo.
Jeferson Andrade - Como pretende pautar seu mandato no
próximo ano?
Natália Bonavides – Vamos iniciar em breve um processo de
planejamento, que também será uma construção coletiva, como anunciamos na
campanha que faríamos. Vai ser abrir algumas séries de debates pra ouvir da
população quais são as prioridades que se acham importantes que uma vereadora
paute lá na Câmara. Vamos fazer isso com vários dos movimentos que nos ajudaram
na construção da campanha, com os vários setores que passam por situações de
violação de direitos aqui na cidade.
E nesse planejamento vamos
decidir as estratégias de atuação, os principais eixos temáticos, mas já posso
adiantar que com certeza a questão da mulher e juventude serão dois eixos sobre
os quais teremos bastante foco, até porque meu próprio perfil de ser mulher,
ser jovem sempre foi uma proposta de representar essas duas categorias que são
tão sub-representadas hoje na Câmara. Mesmo que tenha crescido, no caso, da
bancada feminina nessa legislatura que está acabando, nós temos quatro
mulheres; a partir do ano que vem teremos oito, o que vai ser muito importante.
Mas ainda são oito em 29, então ainda somos sub-representadas em relação à
nossa proporção, na população, entre o eleitorado, e essa é uma das coisas que
a gerente vai pautar com muita força.
Edward Rocha - Você vai fazer um mandato de oposição ao prefeito reeleito Carlos
Eduardo do PDT?
Natália Bonavides – É isso mesmo. Nosso mandato vai ser um
mandato de oposição sim, mas claro, de oposição responsável. De oposição de
quem conhece tem conhecido as pautas do serviço público da cidade, as pautas de
como a política vem sendo construída na cidade.
A gente vê que está precisando
haver uma crítica muito séria. Esta questão do serviço público tem sido
extremamente crítica no atraso dos salários dos servidores.
Jeferson Andrade - Qual será sua bandeira nos quatro anos de
seu mandato?
Natália Bonavides – Levantaremos as bandeiras das mulheres, da
juventude, bandeira da classe trabalhadora que é quem mais tem sofrido ataques
nesses tempos de Governo Temmer, depois do golpe que aconteceu com a retirada
da presidenta Dilma.
As bandeiras dos direitos
humanos também, que foi por onde mais construí minha militância, em direitos
humanos, que é direito de toda cidadã, cidadão, que tem que ser garantido
também no legislativo, defendido, principal essa defesa da classe trabalhadora
que é quem tem sofrido mais com os impactos da crise pelo qual nosso País está
passando.
Edward Rocha - Já tem algum projeto para iniciar sua gestão?
Natália Bonavides – Como a campanha foi muito colaborativa,
coletiva, nos vários eventos que a gente fez, por exemplo, sobre direito das
mulheres, direito a cidade, mobilidade urbana, a iniciativa da população com as
demandas específicas que estava identificando na hora, que a gente estava
transformando em projetos que vão ser apresentados na legislatura.
Então a gente está fazendo a partir dessa coleta de opiniões e de demandas que a gente fez durante a campanha. Estamos nesse processo de sistematizar pra poder identificar quais já poderão ser ou não transformados em projetos de lei.
Jeferson Andrade – Você foi autora do habeas corpus que impediu a
remoção violenta dos estudantes da Câmara Municipal em 2011. Como foi?
Natália Bonavides – Em 2011 nossa prefeita na
época era Micarla e estava havendo uma série de denúncias em relação a aluguéis
irregulares, de imóveis que não eram usados e na mesma época também estava
havendo um movimento chamado Fora Micarla, que também teve relação com o
aumento das passagens. E uma dessas manifestações, esse movimento culminou numa
ocupação da Câmara de Vereadores. Vários estudantes, categorias do movimento
estudantil entraram na Câmara e lá fizeram um acampamento, uma ocupação e
reivindicaram que fosse criada uma Comissão, tipo uma CPI, que na Câmara a
gente chama de Comissão Especial de Inquérito pra investigar esses contratos de
aluguéis da Prefeitura. Essa era a pauta daquela ocupação a investigação
daqueles contratos e aí houve uma decisão pra que os estudantes se retirassem
sob força policial. Foi no dia 15 de junho de 2011.
Eu fazia parte, junto com outros estudantes de Direito e
outros estudantes da Comissão Jurídica do acampamento. A gente fez esse habeas
corpus no STJ que reverteu a decisão do Tribunal de Justiça do Estado e
garantiu que os estudantes podiam ficar lá, não deveriam ser expulsos pela
polícia e continuaram sua reivindicação e acabou dando certo. Dois dias depois
foi instalada essa Comissão de Investigação no âmbito da Câmara. Os resultados
foram enviados ao Ministério Público e o resto vocês já sabem.
Natália Bonavides – O Vereador Raniere, pré-candidato à presidência da Câmara, está
existindo aparentemente uma divergência dentro do partido do prefeito, o mesmo
do Vereador Raniere, não sei dizer as razões, mas acho que isso dará algum
impacto nas eleições da Mesa Diretora.
Edward Rocha - Com relação à eleição da presidência da Câmara, que já vive um
momento tenso de conversas e decisões, onde existem três postulantes ao cargo,
os vereadores Raniere Barbosa, Kleber Fernandes e Franklin Capistrano. Você já
definiu quem vai apoiar?
Natália Bonavides – Não. Ainda estamos debatendo essa questão.
Cheguei a conversar com o Vereador Raniere, o Vereador Franklin, mas como falei
pra eles, estamos num processo de conversar com alguns setores da sociedade
civil pra colher algumas propostas que vamos apresentar às chapas. A partir da
adesão ou não nessas chapas, a essas propostas trazidas pela sociedade civil,
que são propostas de mais transparência, uma Câmara mais republicana, a gente
vai debater junto ao partido a posição a ser tomada em relação à Mesa Diretora.
Jeferson Andrade – O que a juventude tem pensado sobre esse
desgoverno Temmer, com muitos cortes na educação?
Natália Bonavides – Dentro de tantas notícias ruins, de
ataques aos direitos dos trabalhadores, tem aquela flecha de luz que deixa a
gente animada, com esperança é ver que a juventude tem sido um dos nossos
principais protagonistas na resistência a esse ataque, a esse avanço, a essa retirada
de direito. A juventude, o movimento estudantil dando uma aula cívica, de
cidadania e que como nosso direitos foi retirado a gente não pode ficar
olhando, passivo. E isso que a juventude tem feito. Não tem deixado o Governo
Temmer fazer todos esses desmandos sem que nenhum ai seja dito. Tem sido muito
importante o protagonismo da juventude na reação a esse golpe.
Edward Rocha – Com relação à quantidade de votos era o que você esperava e onde mora
Natália?
Natália Bonavides – Em relação aos votos, havia pessoas na
coordenação da campanha que já avaliavam que seria uma média por aí, porque
estava vendo a campanha crescendo na cidade, inclusive nós somos uma
candidatura que teve votos em todos os colégios eleitorais da cidade. Não só
foi distribuído em todas as Zonas, como em todos os colégios teve votos. Foi
realmente difundida na cidade, realmente ganhou a cidade.
E onde eu moro? Na Zona Leste,
na Cidade Alta.
Jeferson Andrade - Deixe uma mensagem para os ouvintes e
internautas.
Natália Bonavides – A mensagem que eu quero deixar é um
chamado, uma convocação pra participação política. Eu sei que está sendo muito
difícil nesses tempos, a gente vendo tudo que tem acontecido em nosso País. Tem
sido muito difícil até querer se interessar por esse tema. Mas a mensagem que
queria passar é ao contrário. A gente vendo tudo isso acontecer, aí é que a
gente não pode mesmo deixar de se informar, ter um olhar crítico sobre o que
tem acontecido e de se movimentar, se organizar, está em contato com quem
trabalha com a gente, da classe trabalhadora junto com a gente. O que a gente
pode fazer pra combater tudo isso, todos esses avanços dos nossos direitos que
tem acontecido.
Acho que a mensagem é essa.
Que a gente não deixe nunca de se indignar com o que acontece. Não se omita,
não fique tão indignado a ponto de se abster, mas que fique indignado a ponto
de querer agir, de querer a mudança das coisas.
E conto com isso também pra o
próprio mandato. A gente não tem como fazer um mandato só dentro das quatro
paredes da Câmara, a gente tem que fazer um mandato pra fora da Câmara,
dialogando com a população, e pra isso é muito importante a participação do
povo.
Jeferson Andrade - A maioria da população não acompanha o que
acontece na Câmara Municipal e não participa das audiências?
Natália Bonavides – Está havendo esse momento mesmo de
descrença. Uma reação a tudo que está acontecendo. Uma reação de decepção, que
a gente entende, mas que a gente faz esse apelo que também é responsabilidade
da gente, nós que fomos eleitos, de quebrar essa barreira, essa imagem que as
pessoas tem tido na política e reverter, porque a gente sabe que quem não gosta
de política é governado por quem gosta. Então, o melhor que a gente faz é se
interessar, se informar e participar porque senão outras pessoas vão tomar as
decisões por nós. Cabe a gente que foi eleito, ajudar nessa aproximação dos
espaços políticos, dos legislativos, do executivo com a população, divulgando o
que vai ser feito, fazendo audiências fora da Câmara, na comunidade, fazendo
atividades fora do espaço físico da Câmara. É uma responsabilidade que a gente
tem pra quebrar um pouco esse conceito que as pessoas estão tendo da política.
E lembrar que sem política as
decisões principais que afetam desde o preço do pão até o preço da água, da
energia têm que ser tomadas com participação.
Direção e Produção: Jornalista Waldilene Farias
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