O Jornal Clarim Natal abre espaço para as
diversas opiniões política comunitária envolvendo os serviços públicos
Apesar do cenário
político encontrar-se em um momento difícil, onde observamos a corrupção
presente nas três esferas de governo, como no Legislativo, Executivo ou no
Judiciário, o papel do vereador é muito importante para a sociedade e para o
desenvolvimento de um Município.
Mas, o que faz o vereador? O líder comunitário funciona como um elo entre a comunidade e
o vereador? E os Serviços Públicos?
Onde começam e terminam
as responsabilidades de cada um desses agentes públicos?
Os Serviços Públicos
para as comunidades de onde devem vir? Através de quem? (Câmara Municipal,
Secretarias/Prefeitura – morador, líder comunitário, vereador)?
A seguir entrevista com líderes comunitários sobre
o tema – Vereador X Líder Comunitário X Serviços Públicos
Entrevistado: Lima Freire – Presidente da FECNAT
A importância e o verdadeiro papel de um líder comunitário
Na opinião do Presidente da Federação Municipal de Entidades
Comunitárias de Natal (FECNAT), morador do Conjunto Parque das Dunas, Zona
Norte de Natal José
Leoniça de Lima Freire “em primeiro lugar podemos destacar que o líder das comunidades é fruto da
vontade democrática dos moradores daquela comunidade, ou seja, o líder
representa a vontade daquela comunidade que o escolheu, porém nem sempre esse
princípio é respeitado pelo escolhido (anomalia), explicou.
“As ações e comportamentos, do líder, devem ter sempre como pano de fundo
os anseios dos que o escolheu como representante (responsabilidade) e
todo o seu trabalho deve ser pautado nas deliberações colegiadas da comunidade
(respeito)”, relatou.
“O líder comunitário não deve barganhar usando a comunidade como moeda
de troca em nenhuma situação, mesmo que essa situação possa lhe render
benefícios particulares (honestidade). Portanto, destacamos que o
verdadeiro líder comunitário tem como papel, a responsabilidade com a
comunidade; o respeito com as decisões da comunidade e a honestidade com
transparência perante toda a cidade; e isso é inegociável, frisou Lima.
O
verdadeiro papel do vereador
“Para falar
do papel do vereador será necessário recorrer a outros patamares. Sou adepto do
“cada um no seu quadrado”, porém, vamos enumerar aqui algumas tarefas as
quais achamos relevantes. Um vereador é um agente político, eleito
democraticamente pela população para exercer suas funções em esfera municipal,
mais especificamente, na esfera do Poder Legislativo Municipal. Podemos
dizer que a atividade mais importante do dia a dia de um vereador é legislar”,
falou.
“O Mandato do vereador é restrito ao âmbito
municipal, portanto as leis deliberadas, criadas, emendadas ou extintas pelos
vereadores têm efeitos exclusivos para os municípios a que eles pertencem.
Sendo assim, o vereador tem um papel equivalente ao que deputados e senadores
possuem nas esferas dos Estados e da União Federal”, ressaltou.
“Não é só de Leis que se resume o trabalho dos
vereadores, eles também exercem a fiscalização das ações do Poder Executivo
Municipal – ou seja, das ações do Prefeito. A tarefa de fiscalizar o poder
executivo é importante para que o Prefeito não se sinta acima da Lei,
tornando-se assim um ditador; dentro da tarefa de fiscalização está a de
realizar o chamado controle externo das contas públicas, com ajuda do Tribunal
de Contas do Estado já que não temos no Município”, explanou Lima.
“Sem negligenciar, nada o exime de cumprir com as
promessas feitas a população em tempo de campanha política”, frisou.
Durante bate-papo
questionamos qual sua opinião sobre o motivo de alguns políticos só aparecerem
nas comunidades apenas em ano eleitoral.
“Isso é uma prática nefasta que deveria ser
abolida, mas, infelizmente a maior parte dos políticos fazem uso e ainda alegam
que não aparecem por conta de muito trabalho”, desabafou Lima.
E prosseguiu: “Não creio que seja pelo volume de
trabalho que não aparecem, devemos fazer uma análise mais profunda das razões
que leva um camarada ir atrás de votos da população nos bairros e depois de
eleitos desaparecerem; vejamos as razões: Geralmente esses políticos têm seus
cabos eleitorais, esses são bastante conhecidos da população e ganham uma
grana, dos políticos para divulgar o nome do candidato; em outras palavras, se
vendem e vendem o seu voto em seu nome, para o candidato, que depois de eleito
vai embora e não tem mais compromisso com a comunidade, pois comprou o seu voto
e em alguns casos, não foi nem o próprio eleitor quem recebeu o dinheiro”,
disse indignado.
De acordo com Lima, esses cabos eleitorais, algumas
vezes, ou melhor na maioria dos casos são os “pseudo” líderes comunitários, os
quais se vendem deixando de lado o verdadeiro papel da liderança comunitária”.
“Sendo assim, a responsabilidade pelo sumiço dos
políticos após a eleição, torna-se dividida com a própria comunidade através
daqueles que deveriam representá-la, o líder que se vendeu e deixou a população
“a ver navios”. Podemos citar também como motivo do sumiço, a falta de preparo
dos políticos que não têm o mínimo necessário para enfrentar o povo, pois
muitos deles se candidatam para ganhar dinheiro e não para fazer algo pela
população. Isso é de fácil identificação, quando verificamos que muitos
políticos se utilizam de cargos públicos, como secretarias municipais e
estaduais, para se eleger, usam o erário público para conseguir a eleição. São
esses os políticos que só aparecem de quatro em quatro anos”, exprimiu.
Ao indagá-lo sobre a importância da ligação direta de parlamentares à
Conselhos Comunitários para que uma comunidade possa vir a receber serviços
públicos Lima Freire explicou: “Não condeno ninguém por adotar um parlamentar para si, mas daí vincular
uma entidade comunitária (conselhos) a qualquer que seja o político, é
um absurdo! Pois o Conselho Comunitário é um ente público e como tal deve ser tratado”,
destacou.
E apontou essa prática comum na cidade. “Já
presenciamos verdadeiras batalhas em eleições comunitárias, batalhas travadas
entre vereadores pelo controle daquela comunidade, ou melhor, batalhas por
cabos eleitorais comunitários”.
E revelou: “Muitos dos parlamentares adotados como
“padrinhos” comunitários, assumem a tarefa de “facilitar” a chegada de serviços
públicos naquela comunidade e geralmente são da base do prefeito. Ora, se para
chegar serviços públicos nas comunidades é necessário a intervenção do
vereador, isso se dar porque o prefeito está sendo negligente com a sua gestão.
Ou seja, o prefeito está deixando de fazer o que a cidade necessita. Não acham?”.
E prosseguiu no desabafo: “Essa é mais uma prática de tentar enganar o eleitor,
pois a incapacidade do vereador é tão grande no desempenho de sua função, que
ele procura algo para ser visto pela população, nem que seja travestido de
representante do Conselho Comunitário”, disse.
Os serviços públicos para as comunidades, como tapa-buraco, iluminação,
limpeza, podação, etc, naturalmente destinados às comunidades são realizados
pelas diversas secretarias municipais, porém, grande parte destas localidades
não recebem o serviço, que muitas vezes só chega à comunidade quando solicitado
e publicado pelo vereador que tem como cabo eleitoral o líder comunitário
daquela localidade. Serviços que deveriam fluir naturalmente. E Lima Freire avaliou
esta situação.
“Essa situação tem sido uma constante nos últimos
anos em Natal, mas isso se dar pela fragilidade dos nossos parlamentares no
desempenho real das suas funções, quer seja por desconhecimento, quer seja por
incapacidade ou mesmo por comodismo e cara de pau. E pela mesma fragilidade e
despreparo da maioria das lideranças comunitárias”, confidenciou.
E falou: “Os serviços públicos elencados acima são
oferecidos pela Prefeitura Municipal, e tem como agente financiador a população
da cidade, portanto é um direito e não um favor político, tendo em vista que
tais serviços são executados com o dinheiro vindos dos impostos pagos pela
população”.
“Os serviços públicos não deveriam ter
atravessadores”, desabafou.
“Mas isso acontece porque os parlamentares na busca
por facilidades se dedicam na execução das tarefas que são das lideranças
comunitárias e negligenciam a sua própria função. Como assim? A tarefa de
reivindicar serviços para a comunidade é do Conselho Comunitário através de sua
diretoria (lideranças), ou seja, o Conselho Comunitário deve
verificar as necessitadas da comunidade e oficiar as secretarias do município
para que os serviços possam ser executados. Sempre foi feito dessa forma, o
líder comunitário identifica a necessidade e faz a solicitação a Secretaria
indicada e essa executa o serviço”.
“Porém, a ordem natural das coisas foi substituída
pela inovação de alguns parlamentares com o intuito de ter o líder comunitário
em suas mãos. Com essa prática, tanto os parlamentares, quanto as lideranças
comunitárias estão deixando a Prefeitura em maus lençóis, pois é divulgado pelo
parlamentar que o serviço que é público só foi executado porque ele solicitou. Assim
estamos nos deparando com verdadeiras aberrações, como: vereadores prestando
contas de seus trabalhos usando ofícios de solicitação de troca de lâmpadas
queimadas, serviço de tapa buracos, implantação de lombas, colocação de
luminárias para festas juninas, pintura de faixa de pedestres, por exemplo”, desabafou.
E continuou: “Essa situação, no meu humilde
entendimento, é uma lástima para a cidade. Por outro lado, os líderes
comunitários se dão a esse papel em troca, em alguns casos, de cargos tanto nos
gabinetes do parlamentar, quanto na própria Prefeitura”.
Por fim foi questionado sua opinião sobre como poderia acontecer a
parceria entre o líder comunitário, o vereador e a Prefeitura com os serviços
públicos por meio das secretarias, para que os serviços possam chegar às
comunidades, sem haver subordinação entre os parceiros?
E a resposta foi a seguinte: “Prefiro que não haja uma parceria,
tríplice, com finalidade de facilitação dos serviços públicos chegarem nas
comunidades. Creio que os grandes interessados sejam, apenas, a comunidade e a Secretaria
Municipal envolvida. O vereador como legislador que é, não deve interferir com
o executivo no que tange a execução de serviços públicos, os quais são de
exclusiva competência do poder executivo; portanto, “cada macaco no seu galho”.
No caso específico, a liderança comunitária que identificar a necessidade de
ação por parte da Prefeitura na comunidade, deve procurar diretamente a Secretaria
competente, sem necessidade da interferência do vereador, pois não é necessário
atravessadores para que as ações governamentais possam ser executadas; a menos
que o prefeito seja conivente com essa postura nefasta e réproba”.
“O vereador, se quiser, pode e deve procurar ter o apoio das lideranças
comunitárias, mas, apresentando os seus próprios méritos para obter tal apoio,
nunca usando os serviços públicos prestados pelo Executivo (Prefeitura) para
obter vantagem, como vem ocorrendo diuturnamente na cidade do Natal. Uma
parceria deve existir sim, no entanto, entre a comunidade (lideranças) e
governo municipal (Prefeitura/secretarias), e, sem haver subserviência
de ambas as partes, nem a liderança comunitária está a pedir favor, nem a Prefeitura
está a fazer favor; ninguém deve nada a ninguém. Deve-se sempre lembrar que é
com o dinheiro público, do contribuinte, que os serviços públicos
são executados, portanto, não é favor!”.
E concluiu: A liderança comunitária deve se dar ao respeito e não
barganhar nem se vender; os vereador tem que se mancar e deixar de ser cara de
pau, pois todos sabem qual o seu real papel; o poder executivo (Prefeito)
necessita ingressar no terceiro milênio e esquecer o tempo dos coronéis, a
cidade não tem dono, ou melhor, quem manda é o povo; a população em geral
precisa acordar, quem manda na cidade é o povo que nela habita e paga impostos,
portanto, quer seja prefeito, quer seja vereador, são empregados do povo, do
contribuinte, finalizou Lima Freire.
Entrevistado: Diego Oliveira – Líder Comunitário –
Bairro das Rocas
Na opinião de Diego Oliveira do Bairro
das Rocas sobre o verdadeiro papel do líder comunitário “o real papel do líder comunitário é defender e
buscar soluções para sua comunidade junto ao poder público. É como um elo livre
e sem amarras entre o povo e poder público. Um bom líder comunitário vale
mais que muitos políticos”, observou.
Sobre o verdadeiro papel do vereador Diego
falou: “Fiscalizar as ações e gestão do
executivo. Fazer leis que tornam a sociedade mais justa e humana”.
Ao
questioná-lo a respeito de sua opinião sobre a razão que os políticos só
aparecem nas comunidades em período eleitoral a resposta foi a seguinte: “Não
vejo dessa forma. Não gosto muito da questão de generalizar. Vejo que temos
bons políticos, presentes e atentos às comunidades. Principalmente aqueles que
possuem elos e ligações com os bons líderes comunitários”, explanou.
Para Diego Oliveira é importante a ligação direta
de parlamentares à Conselhos Comunitários para que uma comunidade possa vir a
receber serviços públicos. Segundo ele “é de
muita relevância a ligação entre os líderes e os parlamentares. O parlamentar
não tem como estar presente todos os dias e em todas as comunidades, então o
líder se torna o "parlamentar" da comunidade, pois está presente
todos os dias e conhece realmente os problemas da comunidade.
No tocante aos serviços públicos destinados às
comunidades que devem realizados pelas secretarias municipais, muitas vezes só
chegam ao local quando solicitado e publicado pelo vereador que tem seu
representante na localidade (o líder comunitário), serviços estes que deveriam
fluir naturalmente sem interferência do edil. E Diego Oliveira comentou a
situação.
“É impossível a gestão saber todas as dificuldades e
necessidades das comunidades, para isso é necessário que o povo seja parceiro
da gestão e assuma também seu papel de levar as demandas e cobrar a gestão para
que os serviços funcionem sem necessidade de interferência. Para isso, também é
necessário que a gestão esteja próxima do povo e crie instrumentos para isso”,
apontou.
A respeito de sua opinião sobre como poderia acontecer a parceria entre
o líder comunitário, o vereador e a Prefeitura com os serviços públicos por
meio das secretarias, para que os serviços possam chegar às comunidades, sem
haver subordinação entre os parceiros, a resposta foi a seguinte:
“Acredito que
uma unificação entre os líderes facilitaria a chegada e a parceria, tanto com
os vereadores quanto com a Prefeitura. Também acho que a gestão municipal
deveria ter um espaço maior e mais respeitoso para receber as demandas dos
líderes. Isso facilitaria que as demandas chegassem mais rápidas e assim fossem
resolvidas. O povo ganharia muito!, concluiu Diego das Rocas.
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