quarta-feira, 21 de maio de 2014

XII SIBESA reúne especialistas do Brasil e da Itália em Natal/RN para debater desafios do saneamento

Fotos: ABES
Cerca de 850 profissionais e estudantes acompanharam, nesta segunda-feira, 19, a abertura dos trabalhos do XII SIBESA - Simpósio Ítalo-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, encontro promovido pela ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental e pela ANDIS - Associazione Nazionale di Ingegneria Sanitaria Ambientale, da Itália, reunindo especialistas brasileiros, italianos e espanhóis em Natal (NR), de 19 a 21 de maio. O encontro tem como tema “Gestão Integrada, Avanços Tecnológicos e Regulação”.

Na abertura, o presidente da ABES Nacional, Dante Ragazzi Pauli, e a presidente da ABES-RN, Maria Geny Formiga de Farias, receberam a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini. “Fico muito feliz em ver tantos jovens na plateia. Isso mostra que estamos no caminho certo da conscientização sobre como é importante termos um sistema de água e esgoto tratado, lixo bem tratado.  Não há desenvolvimento se não tivermos a estrutura de saneamento ambiental em condição de funcionar e atender aos cidadãos, assim como atender a Política Nacional de Resíduos Sólidos. É importante que haja crença nesse caminho, o que melhorará a vida da população, negócios e atividades como o turismo. Por ser médica tenho a perfeita noção do que isso significa pra saúde da população”, afirmou a governadora, que explicou ainda que a meta do estado: “Estamos trabalhando na expansão de 27% para 80% da população com saneamento básico, até 2015.”

Natal sediará, em 2019, o 30º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, que a ABES  promove a cada dois anos, após Belém/PA, em 2015, e São Paulo, em 2017. O presidente Dante Ragazzi abriu o Simpósio ressaltando  dois avanços do setor no Brasil: a Lei de Saneamento e a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Devemos comemorar sim esses avanços, que tiveram participação ativa da ABES, e que deixam mais claros os desafios  da universalização e da regulação, por exemplo, como a  regulação. Temos metas estabelecidas difíceis de alcançar. Há  dificuldade dos municípios e estados brasileiros em avançar no saneamento. É muito importante o papel do Governo Federal, mas  estados e municípios têm que reconhecer seu papel fundamental no avanço do setor no Brasil.”

Dante parabenizou também o trabalho da Caern – Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte e a cooperação dos parceiros italianos. “É fundamental para nós a experiência dos países que já passaram por esses desafios. A ANDIS é parceira de longa data e essa troca de experiências nos ajuda a buscar caminhos e melhorar o saneamento em nosso país.”

Para o presidente da ANDIS, Renato Gavasci, o Brasil está no caminho certo e tem avançado cada vez mais nas questões de saneamento. “Além da colaboração entre a ABES e a ANDIS, Brasil e Itália têm uma tradição de negócios e cooperação acadêmica. Temos muito trabalho para desenvolvermos juntos.”

Maria Geny Formiga de Farias, presidente da ABES-RN, ressaltou a atuação da ABES em todo o país, através de suas seções estaduais, na promoção de iniciativas relacionadas com o saneamento e meio ambiente, incentivando a consciência social sobre questões de preservação do meio ambiente e ações dirigidas à melhoria da qualidade dos serviços de saneamento. “Esperamos que o XII Simpósio Ítalo- Brasileiro estimule ao máximo as discussões e que possa contribuir para efetivas ações que transcendam governos e que façam parte da agenda da sociedade brasileira, com compromisso definitivo para o bem estar da população, o crescimento econômico e a condição de habitabilidade do país.” 

Representando o prefeito de Natal, Carlos Eduardo Nunes Alves, o diretor de Planejamento e Gestão Ambiental da Companhia de Serviços Urbanos do Natal e vice-presidente da ABES Rio Grande do Norte,  Josivan Cardoso Moreno, discorreu sobre a retomada das obras estruturantes, em parceria com o Governo do Estado e a Prefeitura de Natal. “Estamos trabalhando, especialmente em esgotamento sanitário e abastecimento de água, buscando dinamizar a questão da regulação, e  nas obras de drenagem urbana, o túnel de drenagem, que minimizará o impacto das inundações.”

Josivan também explicou o que tem sido feito em relação à Política Nacional de Resíduos Sólidos, como a implantação oficial da coleta seletiva, e as iniciativas do Simpósio, como o uso de copos não descartáveis distribuídos a todos os integrantes e a compensação de carbono de todo o evento.

Experiência espanhola


Além da participação de italianos e brasileiros, esta edição do Simpósio apresentou o painel “Gestão integrada de infraestrutura urbana”, com o especialista espanhol Xavier Torret Requena, Engenheiro de Estradas, Canais e Portos e Mestre em Engenharia e Gestão Ambiental (MEM), com formação em PNL pelo Instituto Gestalt de Barcelona, que apresentou exemplos de integração de sistemas públicos de saneamento (água, esgoto e drenagem) e informações físicas da cidade como rotas de coleta de lixo, controle de anomalias em pavimentos das vias, controle de manutenção de áreas verdes e identificação de focos de doenças. Serão apresentados exemplos reais em municípios da Espanha, enfatizando a importância da gestão municipal através dos softwares livres de GIS e Banco de Dados integrados com os softwares de cálculo no saneamento (EPANET e EPASWMM). “Agradeço a ABES pelo convite para participar do encontro. Gostei muito das discussões sobre mudanças climáticas porque este é um problema enfrentado por muitos países do mundo. Na Espanha, enfrentamos muitos problemas de seca e de inundações, como aqui no Brasil. Acho que o país está no caminho certo quanto aos investimentos e o nível dos profissionais, mas ainda tem que avançar no planejamento.”
  

Um desafio histórico no Nordeste:  escassez de água ou de soluções


Um dos painéis realizados na tarde desta segunda-feira 19, abordou aspectos relacionados aos desafios da escassez de água no Nordeste, com coordenação do diretor da ABES-RN, Josemá de Azevedo. Nesta mesa, o professor Cícero Onofre de Andrade Neto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, discutiu a importância da água da chuva como alternativa para conviver com a seca. De acordo com ele, o semiárido brasileiro é muito próprio para o uso de cisternas para captação e armazenamento de água da chuva, como alternativa social e economicamente viável, mas que são mal aproveitadas pelo Estado.

“O Rio Grande do Norte é muito modesto em termos de construção de cisternas, sem um plano bem estruturado e com pouco entusiasmo”, aponta.  Ainda segundo ele, o grande desafio é promover a padronização e acompanhamento sanitário dos equipamentos, pois os atuais programas não têm dado a devida importância à questão.

Na sequência, o engenheiro Marco Antônio Calazans Duarte, da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte, apresentou um resumo dos estudos realizados sobre o processo de eutrofização dos mananciais do Estado. Com o tema “Mananciais eutrofizados e água potável: algumas respostas tecnológicas para os desafios”, o engenheiro apontou algumas alternativas viáveis para lidar com a eutrofização, processo que consiste na concentração de nutrientes (compostos químicos ricos em fósforo ou nitrogênio) na água e que, por sua vez, contribui para o aumento excessivo de algas. No Rio Grande do Norte, ele explica que há uma tendência a essa concentração nos mananciais superficiais. “O desafio, a longo prazo, é promover estudos e diagnosticar o uso e ocupação do solo no Estado, pois as principais causas desse processo de eutrofização é a drenagem inadequada da água para práticas agrícolas, bem como a falta de saneamento em alguns pontos”, apontou o engenheiro, que ainda apresentou sugestões e provocações sobre a problemática.

Gestão de Recursos Hídricos


A coordenadora de gestão de recursos hídricos da SEMARH-RN, Joana D’arc Freire de Medeiros, explicou como a secretaria tem atuado no período de grande escassez de chuva. No início da apresentação, Joana explicou as características naturais do Estado, bem como expôs a infraestrutura de açudes. “Conhecer melhor as disponibilidades, uso e regulações, assim como integrar a construção, operação e gestão da infraestrutura hídrica são algumas das lições que precisamos discutir para lidar com o período de escassez de chuva no nosso Estado”, apontou.

Atualmente, o Rio Grande do Norte conta com 4 mil açudes e mais de  mil quilômetros de adutoras que beneficiam cerca de 600 mil habitantes em 72  municípios. Com as chuvas abaixo da média esperada, mais de 50% dos reservatórios do Estado estão com menos de 20% de sua capacidade. Nesse sentido, o desafio da gestão de recursos hídrico, segundo ela, é garantir água para a população sem prejudicar o fornecimento do produto também para o setor produtivo,

“As ações de emergência se dão basicamente na suspensão de usos não prioritários, como a irrigação no setor produtivo, para garantir o abastecimento da população; a redução das vazões dos açudes; bem como a construção de adutoras emergenciais”, concluiu.


Tratamento de esgotos


Do painel 3, “Operação de Estações de Tratamento de Esgotos”, participaram Cícero Onofre Neto (UFRN), Jorge Medeiros (CEGECE), Anibal Oliveira Freire (COPASA) e Renato Gavasci (ANDIS).
Em sua apresentação, Cícero Onofre Neto ressaltou que as condições operacionais são muito importantes para a eficiência das estações de tratamento de esgotos e que muitos problemas operacionais decorrem de erros de projeto e/ou construção ou sobrecarga e anecessidade de que se dê mais apoio e atenção à operação das ETEs no Brasil.

É preciso reconhecer, ressaltou o especialista, que há um programa de saneamento estruturante, que prevê apoio dos serviços visando à sustentabilidade para o adequado atendimento populacional e com o olhar para o território municipal e para a integralidade das ações de saneamento básico, com recursos previstos de R$ 62 bilhões. São ações estruturantes de apoio à gestão, à prestação de serviços, à capacitação e assistência técnica e ao desenvolvimento científico e tecnológico. “Mas ainda é insuficiente, a situação operação das estações, principalmente as menores, é grave.”


SIBESA

 

O simpósio é realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes) e da Associazione Nazionale di Ingegneria Sanitaria Ambientale (Andis), da Itália. Realizado no Centro de Convenções até quarta-feira (21), na Via Costeira, o evento tem a participação de estudiosos e especialistas do Brasil e internacionais. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) participa do Sibesa é patrocinadora e coanfitriã do evento, ao lado da Caixa Econômica Federal (CEF), Fundação Nacional de Saúde, Governo do Estado, Ministério da Saúde, Prefeitura do Natal e Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). O SiBESA é realizado alternadamente no Brasil e na Itália, reunindo especialistas e estudantes para discutir questões ligadas ao saneamento e meio ambiente.

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