BRASÍLIA
Por 11 votos a oito, os senadores recusaram a proposta do líder do PSDB no Senado
Sob aplausos de manifestantes, a Comissão de Constituição e Justiça
do Senado rejeitou, na tarde desta quarta-feira, proposta que permite a
redução, em determinadas circunstâncias, da maioridade penal para 16
anos. Por 11 votos a oito, os senadores recusaram a proposta do líder do
PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), que chegou a ser chamado
durante a audiência de "fascista" por um manifestante.
O texto do tucano previa a redução da maioridade penal para 16 anos
nos casos em que o menor de idade tivesse cometido crimes hediondos,
tráfico de drogas com uso de violência ou reincidência em crimes
violentos. Pela proposta, o promotor de Justiça da Vara da Infância e da
Juventude é quem iria provocar o juiz da causa pedindo que o jovem
pudesse ser punido da mesma maneira que um adulto. O menor poderia
passar por uma avaliação psicológica, socioeconômica e familiar.
A proposta foi colocada em pauta pelo presidente da CCJ, senador
Vital do Rêgo (PMDB-PB), que tem estado insatisfeito com a presidente
Dilma Rousseff por ter sido preterido na reforma ministerial. O Palácio
do Planalto é contra qualquer mudança na maioridade penal, mesmo ciente
do risco eleitoral para Dilma. Pesquisas têm indicado uma maioria da
população favorável à mudança.
O debate na CCJ foi acalorado. Logo no início da sua exposição, o
líder tucano foi chamado de "fascista" por um manifestante, Gustavo
Belisário, que foi retirado da sala pela segurança da Casa.
"É uma
medida absolutamente cautelosa que se justifica diante da gravidade que
os crimes bárbaros cometidos por menores de 18 anos e maiores de 16
precisam ser enfrentados", defendeu Aloysio Nunes Ferreira, que vai
apresentar um recurso para que a proposta, mesmo rejeitada, seja votada
pelo plenário da Casa.
Coube à bancada do PT liderar a derrubada da proposta. A presidente
da Comissão de Direitos Humanos do Senado, a petista Ana Rita (ES),
disse que a diminuição da idade para 16 anos na punição de menores
infratores não resolveria o problema da violência urbana. "Colocar todos
esses jovens numa cadeia é agravar ainda mais um sistema caótico,
falido", criticou.
A senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR)
reconheceu o "esforço" do líder do PSDB com a proposta. Ela chegou a
sugerir o adiamento da votação para que o "debate" sobre a punição de
jovens fosse feito no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Ela disse que a Secretaria de Direitos Humanos e o Ministério da Justiça
têm debatido o tema. "O grande desafio que temos em relação à
inimputabilidade é como a pena do ECA é aplicada", ponderou.
A maioria da bancada do PMDB seguiu a orientação do líder Eunício
Oliveira (CE) de votar a favor da proposta. "(É preciso) dar a
oportunidade para que aqueles que cometam crimes hediondos seguidos
tenham uma punição diferenciada daqueles que roubaram um pacote de
biscoito", defendeu o líder.
Mas o apoio recebido pelo PT de outros partidos da base - alguns
parlamentares rejeitaram a orientação partidária - foi decisivo para a
vitória do governo. O senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB à
Presidência, deixou a CCJ antes da votação e, durante o debate, não se
manifestou sobre a proposta. A rejeição da matéria foi comemorada ao
final por um grupo de 10 manifestantes que estavam presentes.
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