Tereza Halliday – Artesã de Textos
Ao
fim da Segunda Guerra Mundial, amigos conversavam na esquina da famosa
confeitaria Sertã, no centro do Recife, onde se discutia de tudo. Foi
quando alguém perguntou: “O que você faria se encontrasse Adolf Hitler
frente a frente?” O jurista Barreto Campelo respondeu, resoluto: “Não
lhe apertaria a mão!”. Como gentleman que era, negar um
aperto de mão era a suprema expressão de repúdio e asco por alguém. Esta
história foi contada em sala de aula por meu professor de Jornalismo,
Luiz Beltrão. No rastro das lembranças da faculdade,
também este aforismo de outro saudoso mestre, Pe. Aloísio Mosca de
Carvalho, S.J.: “Quem merece de Deus os dias e as noites, merece de você
um bom dia, um desculpe, um
obrigado”. Ao que minha mãe acrescentava: “E um aperto de mão”.
Fui
ensinada a não negar aperto de mão a ninguém, mesmo que, depois,
tivesse de lavar bem as mãos. Se, por ditames de cortesia ou caridade
cristã, eu apertasse a mão de um desses políticos que
emporcalham a democracia, logo procuraria uma pia com água e sabão.
Certa vez, jantei calada ao lado de um deputado. Meu desejo era
perguntar-lhe: O que o senhor está fazendo para merecer o altíssimo
salário que lhe pago? Não o fiz, em respeito à nossa anfitriã comum.
Deve ter sido insuportável para ele eu não lhe dar atenção. Políticos
detestam ser ignorados. E, até recentemente, pensavam não ser detestável
ignorar as necessidades mais comezinhas dos eleitores que os sustentam
no Poder: saúde, educação, transporte, vida urbana e rural de qualidade.
Nas
manifestações populares que eclodiram recentemente por todo o Brasil
está implícita, simbolicamente, uma colossal recusa em apertar a mão dos
que administram mal e porcamente o nosso dinheiro, recolhido sob o
significativo nome de “imposto”. Repúdio e asco dos
manifestantes pelos legisladores e gestores municipais, estaduais e
federais, com as sempre honrosas exceções. Por que os responsáveis por
nossos impostos e bem estar estão espantados e contrafeitos com os
protestos, fruto de profundo desgosto da população com os péssimos
serviços prestados? Porque tardaram demais a tomar chá de Semancol e, agora, são forçados a fazê-lo.
Aos
leitores de além-mar: “semancol” é um neologismo brasileiro que
designa, com humor e ironia, suposta erva que cura a incapacidade de “se
mancar”, ou seja, dar-se conta de que certo comportamento é impróprio e
inaceitável.
Diário de Pernambuco, 1/7/2013)
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