Públio
José – jornalista
Os países em geral, e o Brasil em particular, têm enfrentado verdadeiros terremotos
em seus sistemas políticos por conta da corrução. Qual célula cancerosa
infectando o corpo humano, a corrução se insere no contexto da administração
pública, tornando-se praticamente impossível, a cada dia que passa, o combate à
sua manifestação e às conseqüências dos seus atos. A imprensa tem denunciado o
surgimento de focos de corrução, por menores que sejam, vivendo seu papel de
guardiã do processo democrático. Mesmo assim, episódios dolorosos e de
magnitude variada têm se repetido com freqüência cada vez maior na vida das
nações, envolvendo, de roldão, governos, partidos políticos e até empresas
privadas. O resultado? Renúncias, demissões, desonra – e morte até,
conseqüências extremamente prejudiciais ao funcionamento das instituições.
Em todo esse processo tem ficado bem patente, bem visível, a pessoa do corruto.
Do político, do alto funcionário público, principalmente dos que administram
polpudos orçamentos, ou dos que estão posicionados bem no centro das grandes
decisões. O corruto, aquele que aparece em primeiro plano quando a denúncia
explode, vai para as primeiras páginas dos jornais, para o horário nobre dos
grandes noticiários de tv, para as páginas centrais das grandes revistas,
quando, na verdade, ele se constitui tão somente a ponta do iceberg, o
porta-estrandarte de um grande esquema. Ou você imagina que um porta-estandarte
sairia sozinho na avenida para defender as cores de sua escola? A investigação
deveria ir mais além, ao cerne da questão. Mas não vai. Fica na periferia, na
instância do jogo miúdo, no universo dos jogadores de pequeno porte.
Dificilmente chega ao epicentro, ao coração do sistema – ao corrutor.
Interessante é observar, também, a sanha e a ira dos que acusam o corruto.
Meses e meses ele é execrado, apontado, perseguido, acusado muitas vezes até
pelo que não praticou. Enquanto isso, lendas, mitos, distorções vão se
agregando à investigação do processo, criando, com o passar do tempo,
dificuldades cada vez maiores para se chegar aonde todo mundo quer chegar: ao
corrutor – aquele que deu início a tudo. Ou como se pode imaginar um
funcionário subalterno intermediando negócios que envolvem milhões e milhões de
dólares sem ter, atrás de si, a segurança e a garantia de que o proposto será
fielmente cumprido? E também como receber alguém em uma negociação não estando
seguro do poder que essa pessoa representa? Você negocia com quem não está
autorizado para tanto?
Ah, o corrutor! Vive nas sombras, plantando, insinuando, se inserindo,
doutrinando – e manchando todo lugar com a planta de seus pés. O tempo
passa, os processos se avolumam, os corrutos aparecem e desaparecem no
noticiário, o país segue seu caminho, mas o corrutor continua lá, impassível,
invisível, empoleirado no poder, acobertado pelas circunstâncias. Seu objetivo
é ganhar dinheiro – sempre. Para tanto, envolve pessoas, mente, distorce,
adultera. Desvia a merenda de crianças pobres, os remédios dos idosos carentes e
o leite de populações indefesas. De quebra, joga o país na rua da amargura e as
instituições num redemoinho sem fim. Pensando bem, quem é tal figura? Um mero
sabichão? Um fruto degenerado da natureza humana? Ou uma disfunção do organismo
político? É difícil a conclusão. Do corrutor, lamentavelmente, não se sabe
quase nada. Somente as conseqüências daninhas da sua “lucrativa”
atividade.
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